Blog para discutir a tese "Papel social do jornalismo no Brasil" desenvolvida entre 2013 e 2017.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Jornalismo, um gigante submetido e insubmisso
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. 4ª ed. rev. e ampl. Florianópolis: Insular, 2012. Série Jornalismo a Rigor, Vol. 5.
Nilson Lage (2012) afirma que a
orientação ideológica na produção do Jornalismo moderno se relaciona com
valores da classe burguesa em ascensão, como os da liberdade de expressão e de
imprensa, somados ao imaginário de liberdade das empresas liberais. “A liberdade
de expressão do pensamento somou-se, na luta contra a censura, às outras
liberdades pretendidas no ideário burguês e o jornal tornou-se instrumento de
luta ideológica, como jamais deixaria de ser” (LAGE, 2012, p.23). Assim, os
jornais conceberam para si uma produção de conteúdo livre, porém foram
recapturados pelos interesses comerciais que os sustentam, assim, a liberdade
de produção noticiosa é uma fantasia e o jornalismo não passa de uma arena
ideológica.
A primeira luta diz respeito aos
princípios da imparcialidade, objetividade e veracidade, muitos caros à
atividade jornalística, fadada a conviver com a subjetividade do profissional,
da empresa jornalística e do momento histórico a qual pertence. Para tentar
estabelecer uma teoria que dê conta desses desvios, Lage (2012) classifica
filtros técnicos e ideológicos utilizados na atividade que garantem a sua
sobrevivência e relacionamento com a verdade até os tempos atuais.
Ao demonstrar que não é possível fazer
a distinção sobre os critérios de verdade, pois esta não existe fora de um
contexto histórico de interesses e motivações, enumera técnicas de fazer jornal
que responderam às necessidades criadas pelas mutações da sociedade e da
atitude do público com o jornalismo industrial. “A reiteração ideológica teria que
ser feita por outros meios, e estes foram supridos por novas formas de produção
da informação” (LAGE, 2012, p.31). Daí enumera o sensacionalismo, a
simplificação, o inimigo único, os critérios de aferição da verdade, o abandono
consciente das interpretações e a proposta de uma linguagem transparente.
Se no início a notícia era
artesanal e incorporava crenças e perspectivas individuais, ao se tornar um produto
industrial passou ser um artigo de consumo, sujeito a acabamento padronizado e
embalados conforme técnicas de marketing.
“Impessoal, tende, nos meios de comunicação social de agora, a produzir-se
de modo a eliminar aparentemente crenças e perspectivas. No entanto, a melhor
técnica apenas oculta preconceitos e pontos de vista do grupo social dominante”
(LAGE, 2012, p.45). Ou seja, o autor admite que a notícia aponta para um
imediato concreto, um discurso elaborado de forma coletiva e industrial
massificada de um bem simbólico.
Contudo, alerta que, ao se
definir notícia como o relato de uma série de fatos a partir do fato mais
importante, reduz-se a discussão ao que venha ser importante, um conceito abstrato e contextualizado historicamente.
O modelo universal de construção do texto noticioso tem que se adaptar aos
diferentes idiomas e às grades de referenciais de cada cultura ou mercado.
Assim, pode-se afirmar a existência de várias formas de notícias, e porque não
dizer de vários jornalismos. “A realidade é múltipla, simultânea. A língua,
linear e sequencial” (LAGE, 2012, p. 85). Desta forma, essa seleção é, para
Lage, um momento de técnica com constatação empírica, com critérios de
avaliação formal, mas que também considera pressupostos ideológicos e
fragmentos de conhecimento científico.
Na tentativa de pensar a notícia
tecnicamente, Lage a classifica como axiomática, porque mostra, impõe,
dispensando argumentos que se furtam à análise crítica; contextualizada em
lugar no espaço, no tempo e no público; e munida de prestígio, que se respalda na
confiabilidade do enunciador ou do veículo. Uma característica destacada é a estrutura
em um sistema linguístico em que emissor e receptor se relacionam em um nível de
poder. Lembrando que a produção da notícia privilegia a função referencial,
eliminando-se todas as funções emotiva e conativa (JACKOBSON, 1974), destaca
que a notícia tenta uma aparência de neutralidade, “cujo repertório tem apenas
ideias estatísticas”, e tenta se inocentar como se a produção linguageira da
notícia fosse desinteressada.
Contudo, a arena ideológica volta,
neste ponto, a se manifestar a partir da análise dos recursos estilísticos do
texto jornalístico. O autor traz à análise o processo criativo dos redatores ao
se empenharem na melhor redação para suas notícias que se adaptam a ambientes
solenes ou informais. “O “resmungo” é uma investigação da harmonia, do ritmo,
dos acentos” (LAGE, 2012, p.60). Essa construção estilística passa pela
nomeação neutra em torno dos fatos jornalísticos, a fim de amplificar o sentido
ao maior número de pessoas. Ao operaram preferencialmente com palavras comuns, alimentam
o sistema de trocas ideológicas e trazem, de maneira inevitável, implicações e
conotações ao sentido. Transmitem, assim, juízos e estereótipos invocando,
muitas vezes, a ambiguidade do mito como unidade do discurso e provocando uma
duplicidade de entendimentos (BARTHES, 1975). A partir desta reflexão, é
possível também entender as semelhanças das notícias em veículos concorrentes e
jornalistas falando de si mesmos de forma tão similar.
Tais modelos estão
prontos; sua aceitação é garantida. Por isso, são bastantes alguns pontos em
comum para que se funde um reconhecimento. É por esse meio que se instaura a
generalidade do particular e as notícias tornam-se exemplo de algo sobre o que
há consenso ideológico” (LAGE, 2012, p.139)
Ao entender o texto como unidade
linguística dotada de significação plena, divide entre ordem narrativa e
expositiva. Sendo a primeira ordem articulada pelos verbos de ação e movimento,
com interpretações profundas, vinculadas a estereótipos, antíteses e
improbabilidades. A segunda, de construção lógica com assertivas determinantes
ou comprovações, traz redundâncias documentais em textos de “alta
comunicabilidade”, ou seja, que passíveis de serem compreendidos pelo máximo de
receptores com repertórios diferentes.
Para explicar os seus critérios
de avaliação técnica, em 1979 quando escreveu a primeira versão do livro, nominados
posteriormente de critérios de noticiabilidade, o autor lança mão de atributos
com base nos “impulsos psicológicos inatos”, que podem ser de agressividade,
sexualidade, possessivismo e protetivismo, assim como métodos de sublimação,
redução e desvio.
“Na indústria
cultural, a agressividade encontra sua projeção mais comum na violência; a
sexualidade, no erotismo ou pornografia [....] ; o possessivismo, no consumo e em
representações de progresso [....], avaliado pelo acúmulo de bens ou índices
quantificáveis. Ascensão em escala
social, aquisição de padrões; o
protetivismo, em certo sentimentalismo aplicado às crianças em geral, aos
animais, aos povos primitivos e a sua natureza ou cultura selvagens” (LAGE, 2012, p. 87)
A partir destes atributos, classifica
critérios técnicos em proximidade (cultural e geográfica), atualidade (‘transatualidade’
– referente ao não conhecido), identificação social (verticalização), intensidade
(números e retórica); ineditismo (raridade, improbabilidade) e identificação humana
(olimpianos de Edgard Morin ou celebridades).
Com ênfase no contexto, Lage avança
numa investigação sobre a verdade nas notícias e novamente afirma que esta é
uma abstração, pois existe somente como um parâmetro de qualidade. “Subjetivamente,
existirá ainda como memória de um instante fugaz de uma descoberta ou revelação.
Nessa memória e neste instante, residem a experiência da verdade” (LAGE, 2012,
p.125). A palavra é polissêmica, autônoma e existe nos inconscientes em quadros
mentais de grande intensidade, mas que são enganosos porque seus significados
são variáveis de acordo com a instância de uso. Para ele, a verdade histórica é
a que prevalece, pois devemos partir da materialidade do fato para a eventual
condição de verdade.
Ao comparar o conhecimento
científico, destaca que a ciência conquista poder a partir do momento em que sua
acumulação de saberes tem uma práxis;
permitindo, quando o objeto é novo no campo, inclusive, que o cientista crie
uma realidade ilusória com base em critérios particulares para se fazer
compreender. Esta realidade construída também pode ser vista na notícia, sem,
contudo, ser encarada como fuga do valor da verdade. “Não há ciências
reacionárias, mas usos historicamente reacionários das ciências” (LAGE, 2012,
p.132).
Por fim, Lage fala sobre as
tensões que permeiam a autonomia semântica da palavra verdade, salientando o “universo
fundamentalmente humano” do código linguístico e o seu grau de competência para
organizar o conhecimento. Neste momento, se torna pertinente trazer à discussão
o pensamento de McLuhan sobre o homem tipográfico. “Dir-se-ia que a grande
virtude da escrita é o poder de deter o veloz processo do pensamento para a
contemplação e análises constantes. A escrita é a tradução audível para o
visual. Em larga medida, constitui a especialização do pensamento” (MCLUHAN,
2000, p. 155)[2].
Lage segue a mesma linha, ao depositar no código linguístico suposições
ideológicas da verdade, uma verdade como um acordo implícito na linguagem, mas
que traz um legado da cultura e seus controles. Porém, afirma que é necessário
delimitar a competência deste código linguístico ao utilizá-lo a partir da
materialidade das coisas e fatos do mundo.
“Notícias são relatos de
aparências codificadas pelo código semiológico (ou linguístico), pelas técnicas
de nomeação, ordenação e seleção, por um estilo” (LAGE, 2012, p.138). Assim, se
o jornalista seguir estas condições de conformidade será qualificado como
correto e honesto, sua competência é medida pelo domínio dessas técnicas, contudo
Lage alerta que essas técnicas dissimulam a relações de poder, pois todas as
escolhas em torno delas estão sendo feitas dentro de um código cultural. As
técnicas apenas tentam minimizar o desvio em relação aos valores do que é uma
notícia ideal. “Os jornais, em suma, não têm saída: são veículos de ideologias
práticas, mesquinharias. Mas têm saída: há neles indícios da realidade e
rudimentos de filosofia prática, crítica militante, grandeza submetida, porém insubmissa”
(LAGE, 2000, p.143)
[1]. Adriana Santiago, doutoranda e mestre pelo Programa de Comunicação e Culturas Contemporâneas (Poscom), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor).
[2] MCLUHAN,
Marshall .Visão, som e fúria. In LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa.
Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p. 153-164
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Estratégias discursivas sobre o papel social do jornalismo[1]
Adriana Santiago [2]
Este artigo analisa as estratégias discursivas utilizadas pelas empresas de comunicação em seus sites noticiosos sobre o papel social do jornalismo. Foram selecionadas 14 organizações para análise dos discursos com base na Teoria da Produção Social de Sentido, de Eliseo Verón (2004). A partir das condições de produção designadas pelos rastros encontrados na superfície dos textos destacados, a pesquisa busca apontar leituras possíveis das estratégias utilizadas pelos meios para provocar os efeitos de sentido do discurso jornalístico oferecido atualmente.
Palavras-chave: 1. Jornalismo 2. Papel social 3. Estratégia
discursiva 4. Análise do discurso 5. Condições de produção.
1. Introdução
Este
artigo vem tentar contribuir com a problematização sobre o jornalismo no âmbito
da imaterialidade do discurso, especificamente na construção da necessidade
social da notícia. Vai propor possíveis leituras do discurso jornalístico a partir
da semiologia de Eliseo Verón, entendendo que o jornalismo ao ser estudado em sua
imaterialidade, não seria menos real do que o empirismo que tem sido aplicado regularmente
sobre suas práticas e discursos.
Verón
(2004) defende que a consciência sobre o estatuto de sociedade é formada pela
manifestação da ideologia no nível da prática, transferida para a ação social e
a linguística. Esta transferência é legível nos enunciados. Porém, no nível
ideológico mais profundo, esta leitura precisa ser completada pela concepção
instrumental da linguagem, a divisão da superfície linguística por meio de um
enunciado mínimo e a semântica ‘de dicionário’.
Desta forma, assevera que a expressão no plural ‘análise dos discursos’ designa
tudo o que é produzido, pois o que circula e determina efeitos dentro de uma
sociedade é sempre discurso.
Na
Teoria da Produção Social de Sentido de Verón, todo o sistema produtivo de
sentido está entre dois polos: o da produção e o do reconhecimento. A
circulação seria o terceiro elemento, constituído pela diferença (ou defasagem)
entre os dois polos, ou seja, a diferença entre a produção e os efeitos do
discurso. Ao analista interessa a gramática, que é sempre o modelo de um
processo de produção discursiva, sendo que um texto pode possuir tantas
gramáticas quanto houver formas de abordá-lo. Entende-se que a gramática de
produção é composta pelas condições de produção do discurso; a gramática de
reconhecimento, pelas leituras que tiveram como objeto do discurso (efeitos);
e, o processo de circulação, pela defasagem das duas gramáticas.
A operação metodológica que consiste em constituir
um corpus de discurso permite
automaticamente distinguir o próprio corpus
de todos os outros elementos que devem ser considerados na análise, mas que não
estão “dentro” do corpus. Tais
elementos, que podemos chamar de extradiscursivos, constituem as condições
tanto da produção quanto do reconhecimento. No meio dessas condições, sempre há
outros discursos, mas estes últimos, não fazendo parte do corpus, funcionam, na verdade, como condições de produção ou de
reconhecimento. Dentro dessas condições, também há, evidentemente, tudo aquilo
que o analista considerará, por hipótese, como tendo um papel determinante para
dar conta das propriedades dos discursos analisados: esses elementos variam de
acordo com o tipo de pesquisa e com a natureza da produção significante
enfocada (VERON, 2004, p.51-52).
Nesta
linha, a pesquisa se interessa pela gramática de produção e partirá do conjunto
de significantes expressos nos sites noticiosos de organizações que compõem o
campo jornalístico. Em seguida, buscará o sentido investido nos discursos
atestados a partir da noção dada às funções jornalísticas e ao seu papel
social. O movimento de análise será reconstituir o processo de produção a
partir do discurso na superfície das páginas de apresentação dos sites
noticiosos, ou seja, passar do texto inerte à dinâmica da sua produção. A
abordagem comparativa é, por sua vez, o princípio de base da análise dos
discursos.
A
pesquisa em questão foi realizada de forma sincrônica entre apresentação de 14
sites noticiosos para estabelecer a comparabilidade dos textos do corpus selecionado. A seleção dos sites
foi a partir da identificação de forças no campo jornalístico, optando-se por
organizações representativas com variações de classe e naturezas a fim de
amplificar o alcance de leitura na busca das invariantes referenciais para
análise.
Para
entender as invariantes de referência é importante destacar a presença do
elemento ideológico na situação de comunicação. Para Verón, o ‘ideológico’ é o
nome do sistema de relações entre um discurso, suas condições sociais de
produção e a análise se dá no nível das gramáticas de produção. “A análise
ideológica é o estudo dos traços que as condições de produção de um discurso
deixaram na superfície discursiva” (VERÓN, 2004, p.56). Porque, como o sentido
em geral é produzido como um desvio, como diferença interdiscursiva, o autor
alerta para esta dimensão que está por toda parte. Ressalta, porém, que nem tudo
é ideológico, e este componente ideológico pode ser um problema para a pesquisa
se não for bem administrado.
22. Campo como
contexto
O
campo jornalístico, a partir da noção de Bourdieu (1997), é um espaço social
estruturado, um campo de forças onde há dominantes e dominados, com relações
constantes, permanentes e de desigualdade. Estas forças lutam para transformar
ou conservar suas posições neste espaço discursivo. “Cada um, no interior desse
universo, empenha em sua concorrência com os outros a força (relativa) que
detém e que define sua posição no campo e, em consequência, suas estratégias”
(BOURDIEU, 1997, p 57).
Quando
trata do campo científico, Bourdieu (1983) o define como um sistema de relações
objetivas entre posições adquiridas em lutas anteriores, um espaço de disputa
em concorrência pela autoridade científica, ou seja, a capacidade técnica e o
poder social. Afirma que há disputa pelo monopólio da competência científica,
compreendida enquanto capacidade de falar e de agir legitimamente (isto é, de
maneira autorizada e com autoridade), que é socialmente outorgada a um agente
determinado. Nos outros campos sociais, conclui, segue a mesma lógica.
No
campo jornalístico está em disputa a credibilidade e a respeitabilidade entre
os pares, as fontes e o público, o que resulta em boas cifras aos veículos.
Constituiu-se um sistema de regras e estilo conferindo legitimidade junto à
sociedade, que é um dos pontos de interesse do analista quando define a
gramática de produção, ou seja, as condições de produção do discurso (VERÓN,
2004). Ao falar no mundo dos jornalistas, Bourdieu alerta que há conflitos,
concorrências e hostilidades, porém os produtos são muito mais homogêneos do
que normalmente se sugere.
As diferenças mais evidentes, ligadas sobretudo à coloração
política dos jornais (que, de resto, é preciso dizê-lo, se descobrem cada vez
mais...), ocultam semelhanças profundas, ligadas em especial às restrições
impostas pelas fontes e por toda uma série de mecanismos, dos quais o mais
importante é a lógica da concorrência.
[….] Isso se deve em parte ao fato de que a produção é coletiva.
(BORDIEU, 1976, p.30-31)
Esta
produção coletiva é feita a partir de procedimentos padrões e rotinas.
Inclusive, o autor chama a atenção para o efeito de interleitura, onde os
jornalistas se leem mutuamente e promovem um efeito de barreira ou de
fechamento mental. “Eis um efeito de campo particularmente típico: fazem-se,
por referência aos concorrentes, coisas que se acredita fazer para se ajustar
melhor aos desejos dos clientes” (BOURDIEU, 1997, p.33). No campo jornalístico,
acredita que os jornalistas têm ‘óculos especiais’ para ver a vida de forma
particular, onde operam uma seleção e uma construção do que é selecionado. “O
princípio de seleção é a busca do sensacional, do espetacular (BOURDIEU, 1997,
p.25).
Este
conjunto de pressupostos e de crenças partilhadas do campo jornalístico
transcende às diferentes posições ou opinião entre os agentes do campo porque
estão incutidos em categorias de pensamento ou em linguagens. Não se pode
desprezar as particularidades de cada agente, as posições que ocupam e vetores
que os tensionam. Entre estas variáveis podem entrar a posição do jornalista ou
do veículo, ou ainda a conjuntura política e econômica. E, principalmente, do
modelo de negócio, que o sujeita às pressões comerciais sob o risco de
tensionamento, como perda de audiência ou queda nas vendas.
Bourdieu
aponta que todos aqueles que querem se firmar como membro do campo,
principalmente os que almejam ocupar posição dominante, se sentirão obrigados a
manifestar independência aos poderes externos, políticos ou econômicos. E, só
depois, indiferença em relação aos poderes e às honras. Nada mais próprio da
cultura jornalística
3. Papel social como invariante referencial
3. Papel social como invariante referencial
Diante
da especificidade do campo e o levantamento de suas gramáticas, é importante
realizar uma análise crítica profunda deste setor a partir da compreensão do
discurso sobre papel social da instituição jornalística e de seus agentes
especializados. A sociologia do jornalismo reconhece a cultura jornalística e a
comunidade interpretativa que partilha quadros de referências comuns (ZELIZER,
2011). Existem contratos fortes e inquebrantáveis entre público e jornalismo
que precisam ser lidos nos discursos atuais. Verón chama atenção para não
desprezar nenhuma das partes deste contrato. “Uma análise do dispositivo de
enunciação é o que chamo de uma análise na produção: mas o contrato se cumpre,
mais ou menos bem, no leitor: no reconhecimento” (VERÓN, 2004, p.234).
Ao
analisar um discurso deve-se observar um conjunto de decisões metodológicas,
que passam por identificar uma invariante referencial no corpus, ou seja, textos que devem falar da ‘mesma coisa’. Para
Verón, estas escolhas são por critério indutivo e passam pelas condições de
produção dos textos em análise. As diferenças textuais aparecem nas
discrepâncias do processo de semantização que caracteriza cada meio - ou
agente/posição do campo, no caso desta pesquisa. O que se observa a priori é que o papel social da
profissão passa por ideias pré-concebidas e uma semantização aparente.
Michel
Schudson (2008) afiança que, ao longo dos anos, os próprios jornalistas
insistem na imprescindibilidade do seu ofício para o bem público. E a prática
contínua de autolegitimação, com base na verdade e na defesa da liberdade de
expressão e dos cidadãos em qualquer sociedade democrática, fez a importância
do jornalismo para a democracia parecer natural. Bourdieu (1996) define este
fenômeno pela autonomização do campo jornalístico, o que Gomes (2009) batiza de
‘discurso legitimador’.
Sob
o aspecto da semiologia, Verón afirma que o discurso “absoluto” existe, mas
salienta: somente enquanto efeito discursivo. “Observa-se que, na verdade, o
efeito de sentido desse discurso da Verdade nada mais é do que o efeito de
poder (de crença) de um discurso — o que Barthes chamava, há muito tempo, de
‘efeito de naturalização’ ao falar do mito” (VERÓN, 2004, p.57). Observa-se a
prova da verdade na notícia, quando a imprensa testemunhal atende ao estatuto
semiótico do fragmento de realidade, pois é único, singular, invencível.
Chama-se a atenção para o imaginário da sociedade sobre o jornalista, ou seja,
aquele que enfrenta o perigo e tem a habilidade de mediar ‘o que acontece’ e a
sociedade. É um processo clivado nas transmissões em tempo real via internet.
Cada vez mais se exige dos jornalistas esta capacidade de onipresença.
É importante aqui observar que Verón faz uma
distinção entre real e o discurso da imprensa. Se o discurso informativo
constrói a atualidade, só o faz porque nele há um arcabouço moral e de valores
sociais que foram construídos. Eles dão à mídia a permissão do público para
produzir a mediação. Esta permissão existe porque o jornalismo se coloca ao
serviço do interesse deste público.
Os rituais
estratégicos para manter minimamente o arcabouço de credibilidade foram
estudados por Gaye Tuchman, em 1972. O modelo clássico de produção, porém, está
sendo desconstruído lentamente no discurso da informação. Novos discursos
não-testemunhais e mudanças estruturais surgem juntamente com as sociedades
pós-industriais. Para Verón, o discurso da informação está finalmente
encontrando a verdadeira correspondência com os modos de funcionamento das
sociedades industriais.
Guerra
(2008) alinha três razões para justificar a força com a qual o paradigma da
objetividade atuou na definição moderna do jornalismo. A primeira é econômica
com um viés político, basicamente porque a afirmação da neutralidade e
objetividade conferia credibilidade ao trabalho realizado e, consequentemente,
aumentava as vendas de anúncios. A competência discursiva caracteriza-se pelo
estilo racional e sóbrio, cujo formato de elaboração da notícia será a técnica
do lide e da pirâmide invertida.
A
segunda razão é que os indivíduos passavam a acolher os novos produtos. Havia
uma demanda por um produto voltado aos fatos que garantisse o crescimento e
fortalecimento desse negócio e, da mesma forma, a estruturação profissional da
atividade jornalística. Assim nasceu o
padrão de conduta e refinamento das demais competências cognitiva e discursiva,
que se voltou mais para a interpretação dos fatos. Surgia a terceira razão com
as recém-adquiridas potencialidades do leitor. Aumentou o acesso à informação,
a capacidade de conhecimento individual e a consequente descrença em
explicações “divinas” ou “míticas” sobre a natureza do mundo, além disso, o
cidadão alcançou a liberdade para decidir por si só sua orientação política
(GUERRA,2008).
No
que diz respeito à credibilidade, não só o jornalismo assume com o consumidor
de notícias a obrigação de ser veraz, mas também o compromisso de usar de todos
os recursos possíveis para evitar o engano e o erro (GOMES, 2009). O jornalismo
contemporâneo é um sistema profissional que provê o mercado de informações de discursos
(enunciados, argumentos, descrições e relatos) sobre a atualidade. A busca pela
objetividade jornalística cria ainda rotinas profissionais.
A
‘objetividade’ pode ser vista como um ritual estratégico, protegendo os
jornalistas dos riscos da sua profissão, como forma de defesa das críticas e
possíveis suspeições, de agilizar o trabalho cotidiano e de cumprir os prazos
de entrega do material (TUCHMAN, 1993). Assim, além da cultura profissional do
jornalismo, existem as restrições ligadas às organizações que gerenciam o
suporte de imprensa, determinam a definição da notícia, legitimam as fontes e
selecionam os eventos a serem noticiados.
Desta
forma, não se pode perder de vista que o jornalismo é um negócio que visa lucro
como outro qualquer. É esse dilema entre iluminismo e economia liberal que pode
embotar a visão sobre o objeto desta e de outras pesquisas. O jornalismo cumpre
um papel social específico, não executado por outras instituições sociais. A
instituição jornalística conquistou historicamente uma legitimidade social para
produzir, para um público amplo, disperso e diferenciado, uma reconstrução
discursiva do mundo com base em um sentido de fidelidade entre o relato
jornalístico e as ocorrências cotidianas (FRANCISCATO, 2003).
Das
funções principais apontadas por Schudson (2007) para a notícia servir de
incentivo à democracia, há uma geralmente ignorada, é de que a notícia deveria
servir para a promoção da democracia liberal e transparente. Aposta na
instituição jornalística assumir um papel mais democrático e não populista para
si, ou o seu agente, o jornalista. Para o autor, as seis funções do jornalismo
nas sociedades democráticas seriam a de informação (os meios de comunicação
podem fornecer informações justas e completas para os cidadãos fazerem boas
escolhas políticas); de investigação (a mídia pode investigar fontes
importantes do governo); de análise (os meios de comunicação podem fornecer
estruturas coerentes de interpretação para ajudar os cidadãos a compreender um
mundo complexo); de empatia social (jornalismo pode informar as pessoas sobre
iguais para que possam vir a apreciar os pontos de vista e as vidas de outras
pessoas, especialmente os menos favorecidos); de esfera pública (o jornalismo
pode proporcionar um fórum para o diálogo entre os cidadãos e servir como
portadores comuns das perspectivas de variados grupos da sociedade) e de
mobilização (a mídia pode servir como defensores de determinados programas
políticos e perspectivas e mobilizar as pessoas para agir em apoio a esses programas).
E, para lembrar, a sétima: a promoção da democracia.
É
importante frisar que podemos assumir algumas diretrizes do pesquisador
estadunidense, mas não como uma receita a ser aplicada ao Brasil, como adverte
Afonso Albuquerque em sua tese do jornalismo como quarto poder.
A premissa adotada aqui é que os jornalismos que se
praticam no Brasil e nos Estados Unidos são o fruto de ambientes culturais - e
também, poder-se-ia acrescentar, políticos, econômicos e legais - completamente
diferentes e, por este motivo, não há nenhuma razão a priori para supor que
eles devessem ser semelhantes (ALBUQUERQUE, 2000, p.25).
As
sete funções de Schudson (2007) podem, inclusive, servir de argumento para a
construção do campo jornalístico com base no argumento iluminista, burguês, que
era detentor de nenhum poder político contra a aristocracia e, assim, criou
instituições como democracia moderna e seus correlatos, como mercado, esfera
pública, opinião pública e jornalismo de opinião (GOMES, 2009). O jornalismo se
alicerça neste discurso que o autolegitima, baseado no serviço ao interesse
público, embora não possa ser um princípio absoluto da prática jornalística,
porque este interesse é mutante, variável e nem sempre é feito para o bem da
esfera civil.
A título de exemplo, podemos propor o seguinte
raciocínio: o princípio “democracia”, que em outras sociedades é entendido como
diretamente derivado do direito da participação do indivíduo nos negócios do
Estado, tende a ser associado, no Brasil, ao valor “ordem pública” - democracia
é algo que interessa a todos - e entendido como uma conquista importante, ainda
que instável, da nossa sociedade. Aceitas tais premissas, não é absurdo
sustentar a ideia de que, em situações críticas, é legítimo sacrificar os
direitos individuais em nome da preservação da democracia, a qual, afinal, é do
interesse de todos. E, se se acredita que a democracia é uma conquista instável
(e, portanto, a crise é uma constante) faz sentido tolerar sacrifícios
repetidos e sistemáticos do direito individual se eles se fazem em favor do bem
comum (ALBUQUERQUE, 2000, p.26).
A
esfera pública brasileira tem sua força quase restrita ao pleito eleitoral. Por
mais que se tente alçar as redes sociais como a nova esfera pública, pouco
poder ou nenhum aparece neste ambiente que não seja mediado pelo jornalismo.
Albuquerque (2000) defende que é dado ao jornalista brasileiro uma
responsabilidade de moderação que não permite à imprensa nacional definir o seu
compromisso com a democracia em termos semelhantes à sua correspondente
estadunidense. Por conta do extenso período da ditadura, o fantasma da crise da
democracia provoca uma ambiguidade acerca do estatuto dos “fatos” e do
“interesse público” o que compromete a noção de objetividade.
Dito isto, voltamos a falar da
teoria democrática que dá aos meios de comunicação a função de “mercado de
ideias” em que as diversas opiniões da sociedade podem ser ouvidas e discutidas
de forma plural, inclusive as minorias populacionais (TRAQUINA, 2005, p.128). A
defesa destas minorias é um papel social destacado desde os primórdios da
organização da profissão, que se hibridiza de certa forma com o entendimento de
defesa de direitos e fiscalização dos poderes político e econômico.
Esta defesa tem relação com a
ideia imprimida do guardião da verdade (watchdog),
de mostrar todas as informações e de forma correta (TRAQUINA, 2005), pois o
jornalismo seria um quarto poder ou um poder moderador (ALBUQUERQUE, 2000). A
verdade é buscada insistentemente pelos profissionais. “Os jornalistas estão na
frente de batalha da liberdade, prontos a vir em sua defesa” (TRAQUINA, 2005a,
p.28).
4. Movimento de análise
4. Movimento de análise
O
papel social que emerge da cultura jornalística gira em torno da justificativa
de defesa do interesse público. “Em suma, o que tornaria o jornalismo uma
instituição legitimada do ponto de vista social seria o fato de ele estar
voltado para servir, de maneira mais completa, ao interesse público” (GOMES,
2009, p.70). Assim, percebe-se a amplificação discursiva deste compromisso em
atender à sociedade, que é encarada por alguns como uma espécie de missão no
âmbito societário, como a promoção de democracia defendida por Schudson (2008).
O pacto da mediação cobra do jornalismo
obrigações proporcionais à sua importância. Verdade, honestidade, correção,
lealdade, respeito, equilíbrio, justeza, imparcialidade são todos valores e
princípios que orientam uma ética do jornalismo mesmo lá onde o serviço do
interesse público não fizer sentido e nem tiver cabimento (GOMES, 2009, p.87).
Este
pacto seria um contrato traçado com várias funções pré-estabelecidas que
influenciam diretamente as condições de produção da atividade. E não só no
produto que oferece, mas também a imagem que faz de si mesmo para se legitimar.
A partir dos estudos de Verón (2004), observa-se que a conceitualização das
condições de produção dos textos orienta a definição de uma leitura ideológica
possível dos mesmos.
Para
o autor, uma “análise de texto” orientada para o estudo do ideológico no
discurso deve ser enquadrada por um conjunto de hipóteses externas que permite
a constituição do corpus e a
identificação das operações pertinentes dentro do mesmo. Verón afirma que o
ideológico no discurso não consiste em propriedades imanentes nos textos, e
sim, em um sistema de relações entre o texto, de um lado, e sua produção,
circulação e consumo, de outro.
Assim,
o sistema de relações sempre passa pelo texto, aqui interpretado como tanto o
resultado da produção noticiada, como as produções escritas sobre si mesmas.
“Em outras palavras, o texto é justamente o lugar em que tal sistema se
constitui enquanto produção de sentido” (VERON, 2004, p.101). Na tentativa de
observar o sistema de relações que mantém o discurso legitimador na sua
instância da produção, o artigo parte da análise das formações discursivas das
organizações sobre o papel social do jornalismo.
A
pesquisa mais adequada para o método da análise de discurso é sobre a
materialidade do texto, observando-se na superficialidade da camada discursiva
a camada ideológica, mais profunda. “Quanto mais naturalizada a ideologia, mais
formações discursivas que dela derivam carregam sentidos que parecem literais”
(BENETTI, 2008, p.108). As formações discursivas (FD) são, para a autora, uma
espécie de região de sentidos, entendendo que jornalismo usa de mapas de
significados consolidados na sociedade e contribui para estabelecer consensos,
ou seja é uma construção de sentidos sobre a realidade que emerge nas frases.
Porém, para viabilizar a análise, é preciso limitar o campo de interpretação
destes sentidos em significados que consolidam aquele sentido nuclear. A
representação das formações no relato são chamadas de sequências discursivas
(SD).
O que fazemos é localizar as marcas discursivas no
sentido rastreado, ressaltando as que o representam do modo mais significativo.
Depois de identificar os principais sentidos e reuni-los em torno de formações
discursivas mínimas, o pesquisador deve buscar, fora do âmbito do texto
analisado, a constituição dos discursos “outros” que atravessam o discurso
jornalístico (BENETTI, 2008, p.113)
Para
a linguista Vanice Sargentini, o corpus
ocupa lugar central na Análise de Discursos, uma vez que se trata de aplicar um
método definido sobre um conjunto determinado de textos, formações ou
sequências discursivas.
No interior dos estudos da Análise do Discurso,
considera-se a dupla paternidade da noção de formação discursiva. Tal conceito,
proposto inicialmente por M. Foucault e, posteriormente, sob a ótica do
marxismo althusseriano, por M. Pêcheux, torna-se indissociável da noção de
interdiscurso. Embora mergulhada em contexto teórico que se modifica, a noção
de formação discursiva, e por extensão de interdiscurso, sempre manteve relação
estreita com a organização do corpus para a Análise do Discurso (SARGENTINI,
2005, p.1).
Analisar-se-á,
portanto, um campo semântico e de frases gramaticalmente transformadas em torno
de palavras-pivô, quando um dado vocábulo é escolhido como pivô de uma classe
de proposições. Contudo, não se pode deixar de observar as condições sócio-históricas
de produção do discurso, e dos sentidos silenciados.
As
14 organizações[3] foram escolhidas por
critérios de audiência, antiguidade e natureza do negócio entre entidades
representativas, profissionais e de estudos, de natureza comercial e não-comercial
e foram selecionadas com o intuito de cumprir a regra da representatividade.
Tentou-se manter um desvio sistemático, onde estão visíveis traços das
condições diferenciais de produção onde cada organização tem diferenças
marcantes de posição discursiva. Este
exercício de seleção das representações a serem consideradas na primeira fase
da pesquisa, dilatou a impressão inicial do campo jornalístico com muitos mais
atores e posições do que o estimado.
Entende-se
que, apesar da necessidade de ajustes severos na escolha do corpus não invalida a amostra inicial e
facilita a comparação dos resultados. Os fragmentos foram organizados para ter
um conteúdo mínimo equilibrado por organização a fim de dar equidade, e cada
organização foi isolada, possibilitando novas análises. Esta ação teve por
objetivo manter o grupo de textos homogêneo do ponto de vista das condições
extratextuais, ou seja, aproximar-se do desvio zero. Optou-se por analisar as formações discursivas em
torno de conceitos-chaves retiradas do marco teórico, que poderiam aparecer em
palavras-pivô[4], no caso, foi construído um mapa semântico com
palavras-chaves e termos correlatos[5].
Na tentativa de relacionar o texto inerte à
sua gramática de produção, esta pesquisa vai comparar as economias discursivas
das organizações do campo jornalístico selecionadas em uma análise sincrônica,
a partir de suas posições diferenciadas no campo jornalístico; sem deixar de
lado a perspectiva diacrônica, embora de forma transversal, ao considerar o
discurso da literatura que fundamenta o campo e que dá conta de discursos que o
autonomizaram, aqui relacionados no marco teórico.
A análise
dos discursos situa-se nos desvios interdiscursivos. Em relação a conjuntos
textuais, ela tem por objetivo reconhecer economias discursivas: a
especificidade de uma economia discursiva não pode ser expressa senão como
diferença de funcionamento em relação a outras economias. A análise do discurso
é, portanto, sempre e necessariamente, intertextual (VERÓN, 2004, p.159).
Pelo método, as
superfícies discursivas destes textos de apresentação são analisadas de uma
forma operacional. Entende-se a
superfície discursiva como uma rede de relações, que podem ser descritas como
traços de operações imprimidas nestas formações discursivas. Estas passam pelas
marcas linguísticas, no caso, tanto pelas invariantes que giram em torno do
papel social do jornalismo quanto no mapeamento semântico. Este mapa semântico
pode ser classificado na lógica dos “pacotes mais amplos” de análise, como a
operação de relacionar as expressões ao contexto.
Analisado na
produção, um discurso desenha um campo de efeitos possíveis e não um efeito,
necessário e inevitável: é uma outra maneira de enunciar o princípio segundo o
qual o efeito não pode ser diretamente inferido da análise na produção, é uma
outra maneira de lembrar que gramáticas da produção e gramáticas do
reconhecimento jamais são idênticas (VERÓN, 2004, p.161).
O
campo de efeitos só pode ser considerado a partir da condição de produção,
quando deixa rastros no discurso, mas não faz parte do discurso em si. É
considerado, por hipótese, tudo o que tenha papel determinante, ou seja, uma
variável de análise. “Em outras palavras, é preciso mostrar que, se mudam os
valores das variáveis postuladas como condições de produção, o discurso também
muda” (VERÓN, 2004, p.52). Nesta pesquisa, entende-se, por hipótese, que a
posição discursiva da organização modifica o discurso sobre o papel do
jornalismo e, consequentemente, suas estratégias. Verón explica que existe uma organização
significante do espaço do discurso, e que o discurso é a alocação do sentido no
espaço-tempo. Portanto, do ponto de vista da Teoria da Produção Social de
Sentido, um texto não pode ser analisado ‘em si mesmo’, mas apenas em relação
às invariantes do sistema produtivo de sentido.
O que se observa da apreciação do corpus é que o método da análise de
discursos possibilita uma amplitude de observação do objeto, que a análise de
conteúdo por si só não permite. Não só palavras, mas o texto completo em si traz um
significante importante, uma maior possibilidade. Os ‘Princípios editoriais das
organizações Globo’, analisados para duas organizações, o portal G1 e TV Globo,
tomam uma dimensão significativa na pesquisa, não só pelo conteúdo extenso, mas
pela modalização dada ao discurso. Vê-se, de início, no escopo da pesquisa três
fortes posições discursivas: das organizações com fins comerciais, que
chamaremos doravante de mercado; dos profissionais jornalistas; e da academia.
Outras duas posições que apresentam menos força, mas ainda consideradas neste corpus, são da imprensa sem fins
lucrativos que se declara como alternativa e das organizações públicas.
As marcas identificadas nas organizações de natureza econômica, ou seja,
que visam ao lucro, expressam um conjunto de significantes bem peculiar investido
nos discursos atestados em torno do papel social. Nesta posição discursiva
foram consideradas as organizações Associação Nacional dos Jornais (ANJ),
jornal Folha de S. Paulo (FSP), Portal G1, Rádio Band News e Tv Globo. Todas
estas organizações assumem formações discursivas semelhantes, que se alinham ao
estatuto semiótico da verdade apontado por Verón, mais conhecido como o
princípio da objetividade.
As
organizações se apresentam como defensoras do interesse público, que promovem
todos os esforços para não perder a credibilidade, que seria o referendo da
sociedade para operarem neste ofício. E, para isso, têm que ser objetivos e
escondem que são um negócio sujeitos às forças do mercado (GOMES, 2009). Por
todo o material estudado perpassa o discurso da necessidade moral da imprensa,
principalmente para consolidar a democracia no Brasil, fiscalizando os governos
e garantindo a própria existência da atividade jornalística.
A
ANJ, organização de classe que congrega proprietários de veículos de
comunicação impressos, inicia a apresentação com a expressão “defesa da
liberdade de expressão do pensamento”, onde quer uma imprensa “sem restrições”
desde que sejam observados os “princípios de responsabilidade”. Destaca diversas
vezes que a entidade defende os direitos humanos e os valores da democracia, e
se coloca, igualmente aos seus jornais associados, como incentivadora da
cultura, da memória e do desenvolvimento do país. O ponto alto é quando afirma
que existe “a necessidade das sociedades de terem informações, opiniões, e
jornalismo de qualidade”. Estes trechos vêm de uma associação que representa
empresas comerciais, porém só trata do aspecto econômico quando defende o
direito à livre iniciativa, comercialização e a defesa da liberdade de
expressão comercial. Por fim, a supervalorização da informação e a sustentação,
mesmo contraditória, da objetividade, mantém o discurso que legitima o campo. As sequências do Globo exemplificam: “é importante que
o público possa diferenciar o que é publicado como comentário, como opinião, do
que é publicado como notícia, como informação”, a “objetividade total
certamente não é possível, há técnicas que permitem ao homem, na busca pelo
conhecimento, minimizar a graus aceitáveis o subjetivismo”.
Os profissionais aparecem claramente neste corpus no discurso da maior representação oficial da categoria. Ao
observar as estratégias do discurso da Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj) destaca-se, sem surpresas, que há uma clara aproximação com a formação
discursiva do papel social jornalismo como fórum público, defensor da verdade e
promotor de democracia. Observa-se esta constatação nas sequências: “A FENAJ na
luta pela liberdade e pela ética no jornalismo”, “e garantissem para a
sociedade acesso público à informação ética e plural”, “democracia como valor
inalienável do cidadão”, “defender o Jornalismo como atividade essencial à
democracia”, “para que o cidadão (ã) possa formar seu próprio juízo e agir
individual e coletivamente no ambiente democrático”.
As
formações discursivas mais funcionalistas sobre o jornalismo, contudo, são
muito fortes e presentes. A entidade representante dos trabalhadores assume
igualmente a homilia positivista da objetividade. Nesta posição são colocadas a Sociedade Brasileira
de Pesquisadores em Jornalismo (Sbpjor), Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e os cursos de jornalismo da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS). Nas entidades representativas de pesquisa, SBPJor e
Intercom, o discurso legitimador do jornalismo aparece menos do que nos
segmentos anteriores. Observa-se que há um cuidado em não adotar conceitos
polêmicos.
Na sequência discursiva identificada no
texto da Sbpjor sobre a independência e a promoção de democracia, observa-se “garantam a
liberdade de expressão e o direito à informação do povo brasileiro”;
“democracia já conquistada” e “a democracia pluralista, as necessidades de
expressão e informação de segmentos emergentes, organizações, movimentos e
novos atores sociais”. Estas sequências demonstram o ideário democrático
defendido por Schudson, contudo, sequencias funcionalistas podem ser
encontradas até mesmo na Intercom, que é a maior e mais antiga das entidades de
pesquisa, como nestas que falam das funções de investigar, selecionar: “jornais
de referência mais sérios têm um editor responsável, que filtra, corrige e
comprova os dados apresentados, acompanha a linguagem e faz mediações” e “a função
jornalística, de intermediação, não pode nem deve desaparecer”. Todas, enfim,
para atender ao interesse público: “essência do Jornalismo – a narração de
acontecimentos ocorridos na sociedade e que sejam importantes e do interesse
dela”. Nas universidades, quer seja pública ou particular, o padrão permanece.
O jornal Brasil de Fato tem uma tiragem nacional anunciada de 50 mil
exemplares, tem circulação nacional e se declara não-comercial, o que o coloca
numa posição discursiva diferente dos veículos assumidamente comerciais.
Contudo, o negócio que não visa o lucro ainda propicia uma margem de suspeita,
porque ainda é preciso ser vendido para sustentar a produção e uma tiragem
desta dimensão. A explicitação da posição independente no mercado também evidência
na análise uma estratégia discursiva para atingir a um público específico.
Observar esta contradição é importante para não provocar um desvio maior na
leitura do efeito discursivo.
O Portal EBC é o website noticioso nacional
ligado ao Governo Federal, sem fins comerciais. Apesar de ser financiado pelo
governo afirma que tem “independência editorial”, “independência nos conteúdos”
e “distinguem-se dos canais estatais ou governamentais”. Efetivamente, a
necessidade de explicitar independência é uma estratégia discursiva para
afastar a leitura negativa que se faz do conteúdo informativo, e o primado da
objetividade e isenção. A missão mostra
que o portal existe para “criar e difundir conteúdos que contribuam para a
formação crítica das pessoas”. Estabelece como papel social a informação para a
promoção de cidadania, apesar de incorporar a expressão “formação crítica” como
um componente diferenciador que já remete à noção de defesa de direitos, ligada
à ideia de jornalista guardião da verdade.
Outra organização financiada em
grande parte pelo Estado é a Rede TV Brasil, rede televisão pública nacional
que agrega a TV Brasil, TV Brasil internacional e TVs Cultura nos estados. No
seu texto de apresentação, também inicia com a estratégia discursiva da independência
e isenção, assim como da promotora de democracia, quando afirma: “televisão pública nacional, independente e democrática”,
se aliando às formações discursivas mais frequentes nos veículos comerciais.
“Sua finalidade é complementar e ampliar a oferta de conteúdo, oferecendo uma
programação de natureza informativa, cultural, artística, científica e
formadora da cidadania”.
5. Considerações
finais
Observa-se
que há nos discursos oficiais dos agentes do campo jornalístico uma linearidade
no que diz respeito ao seu papel social e às suas funções. Em uma pesquisa inicial por análise de
conteúdo sobre as mesmas apresentações de sites noticiosos[6]
observou-se igualmente um discurso padronizado, institucionalizado e, muitas
vezes, automático sobre o papel do jornalismo na sociedade a partir do
mapeamento semântico em torno das funções clássicas atribuídas ao jornalismo.
Chegou-se a resultados operacionais, onde se tentou mapear as funções que os
meios jornalísticos atualmente se comprometem.
Confirmou-se
resultados da análise de conteúdo inicial sobre o mesmo corpus, ao apontar que as empresas jornalísticas alimentam o ethos institucional e seus discursos
oficiais em consonância com o que é conceituado pela bibliografia reconhecida
no campo, ou seja, aquela alinhada à lógica societária dos Estados Unidos. O
ideal profissional liberal descrito teoricamente foi assimilado até mesmo em
posições discursivas anunciadamente opostas. Percebe-se ainda que ao
compararmos à literatura sobre o jornalismo, alguns conceitos estão arraigados,
mas somente Teoria da Produção Social do Sentido propicia o mergulho nas
camadas mais profundas e tenta, nestes textos, perceber mais além.
O
mapa semântico construído a partir das palavras-chaves oferece um indicativo
importante que é possível analisar um corpus
extenso quantitativamente, porém induz a muitos deslizes ideológicos. Um
exemplo é na classificação das posições discursivas dos agentes do campo, como
no caso do jornal Brasil de Fato, que aponta para uma posição mais independente,
mas mantém discursos similares à mídia comercial. De acordo com Verón, quando o
analista tenta montar a gramática de reconhecimento de um discurso, a sua
leitura tem como objetivo reconstituir a leitura do “consumidor”. Neste
sentido, a análise feita demonstra que a estratégia discursiva gira em torno do
discurso “absoluto” da verdade, onde o jornalismo é colocado em situação de
imaterialidade, pois sua materialidade é uma forma de negócio, muitas vezes se
apresenta indigno de credibilidade e respeito. O que se percebe é a tentativa
de dissociação da atividade do aspecto material.
Entidades
de pesquisa, como SBPJor e Intercom, evitam o discurso legitimador do
jornalismo, pois os argumentos científicos não conseguem definir esse processo
adequadamente para explicitar em seus princípios. Este é o desafio da pesquisa
maior, que vai além deste artigo, quando serão observadas marcas linguísticas
não linguísticas na fala dos profissionais como modalização, entonação de voz,
ironia, silêncios e alterações de humor. Pois são eles os locutores deste
discurso e a dinâmica dos textos orais, sem sistematização das apresentações,
que dará a real situação de comunicação sobre este discurso e suas estratégias.
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_______________.
Journalism in the Service of Communication. Journal of Communication .Volume
61, Issue 1, pages 1–21, February 2011
[1]Trabalho apresentado no GP
Teorias do Jornalismo, XV Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação,
evento componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
[2] Professora da Universidade
de Fortaleza (Unifor), mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em
Comunicação e Culturas Contemporâneas pela Faculdade de Comunicação (Facom), da
Universidade Federal da Bahia.
[3] As organizações foram ANJ,
Fenaj, Sbpjor, Intercom, F. São Paulo, Brasil de Fato, Portal G1, Portal EBC,
Rádio Band News, Rádio Nacional, Tv Globo , Tv Brasil, Curso de Jornalismo
Unisinos e Curso de Jornalismo da Uerj.
[4] As palavras-chaves são:
informação, investigação, análise, empatia social, fórum público, mobilização,
democracia, guardião da verdade/’watchdog’, mercado de ideias, interesse
público e independência.
[5] Ver artigo “SANTIAGO, A. Para
que serve o jornalismo? Um caminho para estudar as funções da instituição
jornalística no Brasil” http://sbpjor.kamotini.kinghost.net/sbpjor/admjor/arquivos/12encontro/comunicacoes_individuais/3774.pdf
[6] Ver
SANTIAGO (2014). Para que serve o jornalismo? Um caminho para estudar as
funções da Instituição jornalística no Brasil. In. Anais XII SBPJor, novembro
de 2014
terça-feira, 2 de junho de 2015
O site do Njor voltou ao ar
O grupo dedicado aos estudos do jornalismo. Nasceu em 2012. O Njor começou com leitura de livros clássicos dos estudos do jornalismo. Hoje, se dedica aos critérios de noticiabilidade.
Eu passei um tempo por lá e fiz alguns textos que reproduzir aqui no 'Jornalismo na berlinda' e que agora também estão no NJor.
são eles:
terça-feira, 10 de março de 2015
Academia.edu: A rede social mundial da pesquisa
https://ufba.academia.edu/AdrianaSantiago
Esse é meu link definitivo no Academia.edu. Concluí agora mesmo. Uma rede muito interessante para pesquisa que existe de 2008 e passou por mim despercebida. Foi preciso a Unifor, minha instituição de origem, cadastrar meu perfil para eu dar conta da existência dessa rede interessantíssima.
Porém, como estou no doutorado, achei melhor me filiar ao Poscom/Ufba, onde realizo minha pesquisa atual. Depois de 2017, o plano é voltar para o diretório da Unifor onde pretendo montar meu grupo de pesquisa.... enfim, conjecturas da carreira. Digo isso porque acho importante refletir sobre o que se pretende da carreira ao fazer o seu perfil.
O objetivo da rede é divulgar os trabalhos acadêmicos e criar interação entre pesquisadores. A divulgação dos trabalhos ajuda a construir a pesquisa e fortalecer o pesquisador na comunidade científica, amplia o networking e estimula a produção de novas pesquisas.
É bom lembrar que não substitui em nada a publicação em periódicos, anais de eventos e repositórios institucionais. Aliás, não é aconselhável divulgar antes de publicar em alguma plataforma válida para lattes para evitar que alguém te roube a ideia. Serve apenas como um canal de divulgação científica e permite a aproximação de pesquisadores com interesses semelhantes. Enjoy it!
terça-feira, 3 de março de 2015
Nasceu o blog do Cepad
Acabei de atualizar o blog do meu grupo de pesquisa, o Cepad. O Centro de Estudo e Pesquisa em Análise do Discurso e Mídia (CEPAD) é um dos grupos de pesquisa da linha de Análise de Produtos e Linguagens da Cultura Mediática, do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia – PósCom/UFBA, coordenado pelo professor Giovandro Ferreira, meu orientador.
No dia em que começa, traz uma resenha comentário do primeiro texto do livro Semiosis Social 2 – e Eliseo Verón, lançado em 2014. Esta obra é continuação do livro Semiosis Social, com os resultados de sua tese de doutorado (1987) .
No dia em que começa, traz uma resenha comentário do primeiro texto do livro Semiosis Social 2 – e Eliseo Verón, lançado em 2014. Esta obra é continuação do livro Semiosis Social, com os resultados de sua tese de doutorado (1987) .
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