sábado, 23 de janeiro de 2016

Jornalismo até pode ser mercadoria, mas não é uma qualquer

                                                 
 Adriana Santiago [1]
         GENRO FILHO, Adelmo. O Segredo da Pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2012. 240p.
‘O Segredo da pirâmide’, de Adelmo Genro Filho, traz uma abordagem bem original sobre o jornalismo como forma de conhecimento. Intitula-se uma teoria marxista, mas não traz o pessimismo generalizado da Escola Crítica, embora considere a realidade histórico-social e suas subjetividades como dimensão real e ativa, assim como a objetivação como ponto fundamental nas relações práticas de produção. Para ele, distante dos frankfurtianos, nem toda a capacidade crítica acabou após a indústria cultural, o jornalismo não foi corrompido, ao contrário, foi construído junto com o sistema e dificilmente se aproximará ao ideal funcionalista dos primeiros estudos. Então, acerco-me de Genro em mais dois aspectos: primeiro o jornalismo não existe só para alguns ganharem dinheiro e prestígio; e, segundo, desempenha uma função importante na percepção social dos cidadãos.

Genro (2012) percebe o jornalismo como uma ‘forma social de conhecimento’ que foi historicamente construída embrenhada no capitalismo, mas que tem potencialidades além da lógica funcionalista dos modos de produção. Com base em Hegel e Lukács, afirma que o jornalismo é uma forma de conhecimento cristalizada no singular, portanto, o dito jornalismo informativo, pautado na objetividade, é “ideologicamente antiburguês”, improvável, mas politicamente possível.  Para o autor, o jornalismo é uma forma singular de observar a sociedade, uma espécie de conhecimento imoldável pelas caixas teóricas em voga. Ou seja, recomenda que é preciso abrir os horizontes de pensamento e pensar uma teoria própria. O ponto crucial é que a tese da “pirâmide invertida” quer ilustrar que a notícia caminha do ‘mais importante’ para o ‘menos importante’ e entende o lead como apreensão descritiva e sintética do aspecto singular do fato. Para Adelmo Genro, do ponto de vista epistemológico, o lead é o organizador da singularidade e a pirâmide da notícia deve ficar em pé, porque a notícia caminha do singular para o particular, ou seja, do cume para base.

Há um grau mínimo de conhecimento objetivo que deve ser proporcionado pela significação do singular (pelo singular-significante), que exige um mínimo de contextualização do particular, para que a notícia se realize efetivamente como forma de conhecimento. A partir dessa relação minimamente harmônica entre o singular e o particular, a notícia poderá - dependendo de sua abordagem ideológica - tornar-se uma apreensão crítica da realidade (GENRO, 2012, p.202).
Na introdução da obra, Genro lembra da tentativa de sistematizar o campo jornalístico do alemão Otto Groth, que de 1910 a 1965 escreveu seis volumes sobre o que chamou de “ciência jornalística”. Com destaque para as conclusões de que os jornais são a manifestação e materialização da ideia que o consubstancia, pois comunica bens materiais que pertencem ao imaginário dos leitores; assim como a função social de ir além da mediação, mas de promover uma reciprocidade entre jornalistas, empresas e público.

Para Adelmo Genro, Groth isolou as quatro características principais do jornalismo - periodicidade, universalidade, atualidade e difusão -, que formam a dimensão estrutural do fenômeno jornalístico, mas ainda não conseguiu caracterizar sua essência. Para chegar à uma camada mais profunda, separa o objeto teórico do objeto real (manifestação fenomênica), ressaltando que o real não aparece imediatamente em sua concreticidade, mas após uma síntese das muitas consignações. Seria o que chama de “concreto pensado” a partir da primeira manifestação visível, por meio de outras categorias emprestadas do universo filosófico: singular, particular e universal.

Escrita em meados de 1986, a teoria de Genro se fortaleceu aos poucos em uma corrente de pensamento que avalia o jornalismo em uma constante negociação entre o ideológico e o capital: “a notícia é uma mercadoria, mas não é uma mercadoria qualquer” (GENRO, 2012, p.23). Então, parte de dois princípios: é um conhecimento diferenciado e está tensionado por polos ideológicos antagônicos.

O livro faz uma análise sobre o funcionalismo, quando apresenta a visão de Èmile Dürkheim e da Escola de Chicago a partir do dogma da objetividade, empirismo e análises isoladas do contexto histórico e social. Põe em contexto a ascensão burguesa e surgimento do capitalismo, quando o jornalismo surge moldado pela demanda de uma sociedade em complexificação. As cidades se desenvolvem e cresce com elas a necessidade de informação aos indivíduos agora fisicamente distantes. Formou-se um mercado para a notícia que se torna um produto industrial. Aponta como uma visão simplista, descritiva, reducionista do jornalismo e sua relação com a sociedade é apreendida sob dois pontos de vista: como instrumento de dominação ideológica da burguesia e como controlador da ordem social estabelecida.

Os fenômenos imediatos e acontecimentos não eram percebidos na dimensão do seu sentido aberto e indeterminado. Essa ambiguidade da informação jornalística, que apresenta o passado como se fosse presente e reproduz um fato a partir de mediações técnicas e fontes humanas, não é, na perspectiva de Genro, um “produto maquiavélico do interesse burguês”. Aponta, realmente, uma possibilidade de manipulação, mas condicionado à uma “relação tensa entre o objetivo e o subjetivo” inerente à notícia. E critica o “curto fôlego” de Durkheim que não responde sobre as características assumidas pelo jornalismo na organização da informação e estrutura da linguagem, em sua perspectiva historicamente mais ampla. “Ficam obscurecidas as contradições: sua inclusão na luta de classes e os limites e possibilidades que daí decorrem” (GENRO, 2012, p. 34).

Embora o jornalismo expresse e reproduza a visão burguesa do mundo, ele possui características próprias enquanto forma de conhecimento social e ultrapassa, por sua potencialidade histórica concretamente colocada, a mera funcionalidade ao sistema capitalista (GENRO, 2012, p. 42)
O autor critica o mito da objetividade jornalística porque sempre há uma interpretação subjetivando a narrativa, pois fato jornalístico é também um fato social que envolve escolhas éticas e ideológicas. Esta mitologia é sustentada pelo pragmatismo de grande parte dos profissionais sem acúmulo teórico sobre as técnicas jornalísticas e, mesmo assim, produziram manuais com experiências práticas e disseminaram essas práxis insolente e prosaica. E passa em revista os manuais de John Hohenberg (1962), Fraser Bond (1954), Luiz Amaral (1969) e Clovis Rossi (1984). Destacando funções, valores, deveres, critérios de noticiabilidade, características e, principalmente, o dogma da objetividade.

Erick Neveu (2006), anos depois, ao descrever o campo do jornalismo francês, faz observação semelhante a respeito dos pesquisadores. Os analistas da profissão seriam os próprios jornalistas que, evoluídos intelectualmente pós anos 1980 quando Genro teceu sua análise, já adquirem um certo acúmulo teórico, mas ainda fazem uma teoria auto referenciada de suas práticas, livros de testemunhos das estrelas da profissão, textos que frequentemente contribuem para uma “visão encantada” do jornalismo. Perpetuando mitologias profissionais como a imprensa livre, o quarto poder, valores de transparência, ou seja, o jornalismo visto como uma profissão que é peça-chave da democracia. Jornalismo como promotor de democracia, por exemplo, tem atualmente em Michael Schudson (2010), seu maior defensor.

Forma de conhecimento

O ponto central do livro é o jornalismo como forma de conhecimento, porque não é ciência reconhecida. Tenta explicar a teoria a partir da visão de Roberto Park, no ensaio “A notícia como forma de conhecimento” (1940), que definiu o jornalismo entre algo entre um conhecimento por instinto e intuição (aquaintance with) e um conhecimento metodológico e estruturado (knowledge about), seria o saber de algo acerca de um fato (knowledge of). “Esse tipo de conhecimento se situaria a meio caminho entre a familiaridade com as coisas e o conhecimento formal, racional e sistemático” (BERGANZA-CONDE, 2008, p.25). Ressalta-se que Park entendia o jornalismo como um organismo vivo afundado em um processo continuado de acomodação às necessidades das pessoas na sociedade que crescia e urbanizava-se incessantemente (BERGANZA-CONDE, 2008).

Para Adelmo Genro, porém, a concepção de Park é limitada e conservadora e não consegue ir além da função orgânica da notícia, uma vez que o jornalismo teria um papel desalienante e humanizador, mas sua compreensão é de um jornalismo para controle social. A concepção de conhecimento empregada por Park de “conhecimento de trato” reduz o conhecimento a partir das notícias, porque este grau de conhecimento estaria ligado a reproduzir e reforçar a dinâmica social vigente.

O jornalismo não seria somente um grau, mas um gênero de conhecimento cujo aspecto central “é a apropriação do real pela via da singularidade” (2012, p. 52). Park dizia ainda que o conhecimento do jornalismo teria para a sociedade a mesma função que a percepção para o indivíduo. Genro discorda ao distinguir as dimensões. Considera a imediaticidade do real ponto de partida para o indivíduo, porém, para o jornalismo, a imediaticidade seria o ponto de chegada a partir do qual os meios reconstroem a realidade.

Conclui, desta forma, que há uma diferença fundamental entre estes tipos de conhecimento. A informação jornalística aborda o fato pela singularidade e a científica pela universalidade. Uma singularidade que também a distingue da arte, que cristaliza o particular. “É a dimensão objetiva da singularidade que diferencia o jornalismo da arte” (GENRO, 2012, p.61). Ela é volátil, contextual, de importância ideologicamente atribuída aos fatos significativos, portanto, afirma a existência da dimensão subjetiva na práxis jornalística feita por seres pensantes.

Passando em revista as teorias existentes, chega à Teoria dos Sistemas, que nasceu logo após à dialética, como redutor do papel do sujeito relegando-o a um mero componente dentro de um sistema, que chama de ‘sistemismo’. Genro critica a falta de proposta de ruptura e, apesar de entender que os fenômenos são complexos, multidimensionais, variáveis e irreguláveis, ainda assim acredita no controle possível a partir de leis gerais dos sistemas. À luz da visão marxista, de que a sociedade é resultado da práxis, aponta uma diferença entre a natureza dos homens (agentes autoconstrutores/ sujeitos históricos) e a natureza em si, e conclui que o sistemismo é útil ao capitalismo ao referendar a dominação burguesa como parte deste sistema. Destaca a totalidade dialética das contradições na sociedade que possibilitam diferentes formas de ações e transformações e, assim, não caberia ser avaliada nos modelos cibernéticos. Os projetos humanos são condicionados pela realidade social e não são determinados como entende a Teoria Cibernética. O que explica o mundo é a práxis.

A dialética da quantidade-qualidade é outra fragilidade apontada. Enquanto a Teoria da Informação oriunda do sistemismo valoriza o grau de imprevisibilidade, porque maior será o destaque dado pelos jornais, a quantidade seria determinante. No jornalismo, a relevância social do fato o torna mais importante do que a sua singularidade, ou seja, a relação do jornalismo seria mais forte com a qualidade. Por isso, o singular é a substância do jornalismo e o critério de notícia vai depender da universalidade que ele expressar. “O singular, portanto, é a forma do jornalismo e não seu conteúdo” (GENRO, 2012, p.80). Os acontecimentos previsíveis (mas não determinados em sua forma e conteúdo), pois estes acontecimentos estariam dentro de um contexto de significação histórica.

Destaca o pensamento de Camilo Taufic (1974), como uma das poucas tentativas de discutir o jornalismo numa perspectiva crítica e anticapitalista a partir dos conceitos da Cibernética, outra teoria sistêmica. A crítica mais feroz está no fato de que as funções que o jornalismo cumpre nas “reprodução e manutenção do sistema” são, na verdade, definidas pelas classes dominantes. O jornalismo não pode ser considerado por hipóteses que extingam a reflexão sobre o conceito de verdade e substituí-lo por pressupostos em torno de um controle e organização do sistema social.  Genro enfatiza que a ideia de autoconstrução, práxis e homem sujeito da história, próprios do marxismo, não podem ser abandonadas pelas ideias de sistemas de informação ou homem como parte de um sistema passível de manipulação e controle.

Em última análise, as possibilidades de manipulação proporcionadas pelos meios de comunicação de massa, são tão significativas quanto as potencialidades de desalienação e de autoconstrução consciente se tais meios forem pensados numa perspectiva revolucionária e efetivamente socialista (GENRO, 2012, p. 90)

Ao chegar a Escola Crítica, representada pelos marxistas de Frankfurt, Genro não se identifica ou se acomoda às análises, destacando que um único conceito, não dá conta de toda uma sociedade. Vai no cerne do conceito ‘indústria cultural’, e afirma que essa fragmentação “radical e irresistível” é um grave problema teórico pois a cultura é feita pela práxis dos seres sociais e não pode ser manipulada pelo capitalismo como dizem os teóricos críticos, como Adorno e Horkheimer, pois deixaria de ser cultura. Da mesma forma, não se pode reduzir o jornalismo a um fenômeno mercantil, alienado, porque é também é feito em um contexto histórico.

Chama a atenção para Enzensberger e Benjamin que reconhecem as potencialidades artísticas e políticas da Indústria Cultural, apesar de destacarem o papel que desempenha na manutenção da hegemonia ideológica. Para Genro, dois fenômenos sustentam as contradições geradas na cultura: o potencial “socializante e democrático” das novas tecnologias da comunicação; e a lógica mercantil que reproduz também obras de potencial crítico e transformador. O jornalismo, contudo, não seria crítico, revolucionário e desalienador como desejavam os frankfurtianos porque, para Genro, deixaria de ser jornalismo e teria que ser outra coisa.

Habermas recebe destaque nesta escola porque, para o autor, entre os teóricos críticos, foi o que mais estudou o jornalismo. Dividiu-o em três fases, sendo a primeira centrada nas informações mercantis, a segunda mais político-literárias voltada para a conquista da esfera pública burguesa e a terceira industrial com retorno aos interesses econômicos, de submissão ao mercado. Nesta última fase, destaca a contradição entre o ‘jornalismo crítico’ e a ‘publicidade jornalística’, assim como as notícias tiveram que se tornar mais úteis, adquirindo valor de uso, para que o espaço publicitário (valor de troca) seja valorizado. Habermans afirma, na perspectiva de Genro, que o mercado criou a necessidade das notícias elaboradas nos padrões modernos ou percebeu as reais necessidades de informação jornalísticas e transformou-as em lucro. E, nesta segunda opção, recebe o apoio do autor em resenha, que não acredita em uma capacidade de orquestração tão organizada do capitalismo.

Nesta perspectiva, afirma que, ao contrário do que Habermans e Marcondes Filho, pregavam, a imprensa pode ultrapassar sua função moldada na produção empresarial, sair da instrumentalização ideológica e assumir um ‘caráter rigorosamente jornalístico’, ou seja, não ser aparelhada por qualquer tendência, burguesa ou proletária. Para Genro, o jornalismo vai além da ideologia burguesa, e até sobrevive a ela, podendo ser instrumentalizado pelo proletariado contanto que se crie mediações e canais adequados para difundir conteúdos sociais, ou seja, dando voz ao povo. Neste ponto, classifica como ingênua a ideia de Mattelart sobre “devolver a palavra ao povo”, pois este não considerou o fato de que as pessoas comuns nunca tiveram acesso a esse tipo de “palavra” que agora se pretende devolver, principalmente no caso os veículos de comunicação de massa. Assim, conclui que a “é a luta pelos espaços no sistema de comunicação de massa e a conquista de veículos tecnicamente avançados” (GENRO, 2012, p.131). Todas essas escolas colocadas, Genro mostra que o reducionismo teórico é o preço a pagar pelo ecletismo de abordagens, pois o jornalismo vai perdendo sua “especificidade e concreticidade histórica”.

Ao discutir a notícia como produto, desfaz a mitologia da objetividade, uma vez que as histórias são contadas a partir de mediações histórico-sociais. Ao mesmo tempo em que ratifica a hegemonia ideológica das classes dominantes que se apresenta nos produtos noticiosos e nas instâncias de produção, principalmente, nos profissionais, incorporadas e invisíveis ao primeiro contato. Este ideal positivista de objetividade preveria um jornalismo autônomos dos sujeitos, e isto não existe. Embora reconheça as vantagens práticas e estratégicas das técnicas, como Gaye Tuchman (ano) e Nilson Lage (2014), este último indicou a mesma tensão “entre as determinações ideológicas e manipulatórias do jornalismo e as potencialidades técnicas que ele desperta, em consonância com as necessidades de informação colocadas pela sociedade moderna” (GENRO, 2012, p.143).

Lead como organizador da singularidade

Ao tratar do jornalismo como ideologia, começa a análise pelo lead, que comporta a “reprodução do real como singular-significativo” por meio de um percurso que sai do abstrato para o concreto. Que, na linguagem filosófica, significa o percurso singular-particular-universal. Para que seja jornalismo, a informação ainda tem que se basear na condição de verdade, porém não se pode transformar essa questão em uma deontologia frágil baseada na neutralidade dos fatos, mas em uma discussão ética para obter um consenso sobre o conceito de honestidade, um acordo sobre o que é verdade. Neste raciocínio tenta compreender a essência do jornalismo, em suas fases de mudanças estruturais e a sedimentação em gêneros, em que reconhece a possibilidade de um jornalismo informativo, não propagandístico ou opinativo, a partir de mudanças a partir das redações. “Isto é, reconhecer a possibilidade e a necessidade de um jornalismo informativo com outro caráter de classe, elaborado a partir de outros pressupostos ideológicos e teóricos, mas cuja missão principal não seja apenas a de propagandear tais pressupostos” (GENRO, 2012, p.150).

Uma das consequências mais graves da visão estreita do papel ideológico do jornalismo, entendido como meio para garantir a cultura hegemônica burguesa, é a legitimação da manipulação informativa, porque minimiza o papel revolucionário de seres sociais. A ‘veracidade’ e o ‘otimismo’ são condições de qualidade da notícia, e os fatos não devem servir só para ilustrar com otimismo um tipo de verdade que se acomode à ideologia hegemônica. “Desse modo, os fatos são apreendidos e relatados jornalisticamente como cenas de um filme do qual já se conhece o final e, portanto, portadores de um conteúdo integralmente constituído e indiscutível” (GENRO, 2012, p.157).

Genro aponta que o ‘objetivismo’ e o ‘cientificismo’ são utilizados para renúncia da crítica, sendo o primeiro reprodutor da ideologia burguesa e o segundo, de uma ideologia normativa que manipula cientificamente aspectos e momentos da realidade em prol de uma ideia pré-concebida de sociedade. O autor lembra aí Althusser (1980) e o conceito de aparelhos ideológicos de Estado, que daria ‘correias ideológicas da reprodução social’. Perdem-se, assim, as melhores potencialidades críticas e desalienadoras mais específicas do jornalismo.

Entende-se o jornalismo como uma conjunção de todas estas forças, não submissão integral a estas. Althusser (1980) afirma que as ideologias se manifestam na prática dos sujeitos, ao mesmo tempo em que não têm história própria se constituem e perpetuam em todo o processo de construção da sociedade e que essa perpassa o todo histórico, embora sejam determinadas em última instância pela luta de classes, isto é, "história das sociedades de classes" (ALTHUSSER, 1980, p.75). Assim afirma que "uma ideologia existe sempre num aparelho, e na sua prática ou suas práticas. Esta existência é material (ALTHUSSER, 1980, p.84).

Condições imaginárias de cidadania

A imprensa entendida como aparelho ideológico das classes dominantes pode ser um local de luta de classes, que envolvem elementos internos do campo jornalístico (classe de trabalhadores, patrões e as suas instâncias de poder) assim como tensões que vêm da sociedade, como a demanda do público em resistências aos discursos manipulados e às tensões já inerentes das questões políticas e econômicas impostas pelas classes dominantes. Assim, o poder se manifesta na correlação de forças que tem que administrar para se perpetuar, desta forma, ''nenhuma, classe pode duravelmente deter o poder de Estado sem exercer simultaneamente a sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos de Estado" (ALTHUSSER, 1980, p. 49). Ou seja, o campo jornalístico vira um nicho importante de conquista ideológica para perpetuação do poder.

Althusser (1980) se vale de Aristóteles para afirmar que a 'matéria se diz em vários sentidos', pois esta existe em diversas modalidades enraizadas em uma matéria física, e cita o exemplo de indivíduos cultivando relações imaginárias que justificam suas relações reais e adota práticas e comportamentos reais neste sentido, assim materializa essa ideologia. Todo sujeito deve agir segundo as suas ideias e práticas profissionais, e inscreve nos atos da sua prática material as suas próprias ideias de sujeito livre. Assim, não há como separar a ação dos sujeitos neste processo de construção da mercadoria notícia.

Genro analisa a relação do jornalismo com o capitalismo que é em si uma relação conflitante. Uma atividade privada legitimada pela defesa do interesse público, embora, na maioria das vezes, esteja operando em prol de interesses ideológicos hegemônicos. Adota a tese que até a metade do século XIX, quando da expansão mundial do capitalismo e a difusão das inovações tecnológicas na comunicação, o jornalismo tinha uma narrativa literária e era instrumento de lutas sociais e políticas. Como a maioria dos estudiosos dos anos 1980, ignorava os registros da tese “Os relatos Jornalísticos”, de Tobias Peucer (1690), na Universidade de Leipzig, na Alemanha, traduzidos do latim em 1990, 2000 e 2004, que já davam conta que na primeira metade do século XVII já existiam relatos jornalísticos frequentes que “são em parte a curiosidade humana e em parte a busca de lucro, tanto da parte dos que confeccionam os periódicos, como da parte daqueles que os comerciam, vendem” (PEUCER, 2004, p17). Ou seja, muito antes das revoluções francesa e industrial já analisavam estes relatos utilizados pela cultura ocidental desde a antiguidade, com a valorização do singular, discutindo autoria, critérios de noticiabilidade, dever da verdade, credibilidade e critérios de publicação. Sem falar nas publicações de fatos banais e notícias falsas para agradar a audiência.

O desconhecimento de Genro não descredibiliza, contudo, que a “ideologia da objetividade” tenha chegado em meados do século XIX com o que denominou de “jornalismo por excelência” e a ideia simplista de que os fatos são sagrados. Acrescenta que na América Latina sempre teve uma dependência informativa, mas, apesar da subordinação aos Estados Unidos em vários aspectos, ainda demorou alguns anos para assumir o novo estilo - inclusive o contraponto sensacionalista - acontecendo apenas com a chegada do rádio. A dinâmica radical do processo informativo ocorreu com o capitalismo e os avanços tecnológicos. Contudo, Genro entende que a cidadania patrocinada pela sociedade burguesa é historicamente real e efetiva, embora não tenha igualdade nem nos aspectos jurídicos-formais e nem nos aspectos concretos devido à exploração e opressão. Dessa forma, o jornalismo informativo se faz necessário porque envolve a contradição entre a cidadania real e a “cidadania potencial” que é constituída pelo capitalismo. “Nesse sentido, o jornalismo desempenha seu papel ideológico de reforçar, também, determinadas condições imaginárias de cidadania, preparando os indivíduos e as classes para adesão ao sistema” (GENRO, 2012, p.180).

Assim, o autor justifica essa ambivalência do jornalismo no conflito que atravessa toda a ideia do jornalismo e autoriza os agentes do campo a pensarem a prática sob uma ótica de classe oposta e antagônica à ótica burguesa, abrindo flancos, inclusive, dentro dos veículos noticiosos controlados pela classe hegemônica. Há uma dupla relação de forças, sendo a luta política interna da redação de um lado e a luta pela influência e controle sobre os meios de comunicação. Contudo, Genro adverte que o assujeitamento do jornalista, que deixou de ser um intelectual, no “sentido adjetivo dessa palavra” para ser um trabalhador especializado, sem personalidade e tem feito a classe perder status, no caso, poder no campo de disputa.

Por fim, aconselha aos profissionais ações que podem destacar o “potencial desalienador”, crítico e revolucionário da atividade profissional, “insubstituível para a construção de uma sociedade sem classes” (GENRO, 2012, p.188). Respeitar a hierarquia objetiva dos fenômenos jornalísticos, pondo em evidências as contradições da hegemonia da ideologia dominante, reproduzir visões diferenciadas sobre os fenômenos sociais, lutar por um controle mais estrito e ideologicamente mais cuidadoso dos meios de comunicações e das informações elaboradas por estes meios.

 E como já vislumbrasse uma tecnologia de comunicação revolucionária como a internet e suas alterações históricas dos sentidos humanos, uma ampliação e aprofundamento da percepção e das possibilidades do conhecimento em geral, alerta para o papel, e principalmente potencialidades, dos outros veículos de comunicação além da televisão com seu sistema jornalístico predominantemente hegemônico, imediatista, e a sua potencialidade de singularização. Sugere ainda aos consumidores de notícias, a participação na luta de classes para identificar os interesses, confrontar abordagens dos meios para que se revelem os sujeitos políticos e sociais, relacionar o discurso editorial e a realidade e detectar suas contradições e criar consciência política e teórica de que a informação jornalística não é objetiva, imparcial ou neutra.

Adelmo Genro faleceu com apenas 36 anos. Neste curto tempo, foi jornalista e vereador no Rio Grande do Sul, e professor da Universidade de Santa Catarina (UFSC).  Entre 1984 e1986 cursou também o mestrado em Ciências Sociais e já na dissertação nos presenteia com esta obra que agora resenhamos. Depois disso, foram dois anos de intensa produção - sete livros e dezenas de artigos em jornais e revistas – que alimenta gerações de pesquisadores há 28 anos. Adelmo Genro não era um pesquisador, mas não era um pesquisador qualquer.

[1]. Adriana Santiago, doutoranda e mestre pelo Programa de Comunicação e Culturas Contemporâneas (Poscom), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor)

Bibliografia

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos de estado. Lisboa: Editorial Presença; São Paulo: Martins Fontes, 3.ed. 1980. 

BERGANZA CONDE, Maria. A contribuição de Robert Ezra Park. In: BERGER, C.;MAROCCO, B. (org.). A era glacial do jornalismo. Porto Alegre/RS: Sulina, 2008, p.15-32. v.2.
NEVEU, Érik. Sociologia do jornalismo. São Paulo: Loyola, 2006.

PEUCER, Tobias. Os Relatos Jornalísticos. Estudos em Jornalismo e Mídia, Florianópolis, v. 1, n. 2, p. 13-30, jan. 2004. ISSN 1984-6924. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/2070>.  Acesso em: 23 jan. 2016. 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Jornalismo, um gigante submetido e insubmisso


Adriana Santiago [1]
LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. 4ª ed. rev. e ampl. Florianópolis: Insular, 2012. Série Jornalismo a Rigor, Vol. 5.

Nilson Lage (2012) afirma que a orientação ideológica na produção do Jornalismo moderno se relaciona com valores da classe burguesa em ascensão, como os da liberdade de expressão e de imprensa, somados ao imaginário de liberdade das empresas liberais. “A liberdade de expressão do pensamento somou-se, na luta contra a censura, às outras liberdades pretendidas no ideário burguês e o jornal tornou-se instrumento de luta ideológica, como jamais deixaria de ser” (LAGE, 2012, p.23). Assim, os jornais conceberam para si uma produção de conteúdo livre, porém foram recapturados pelos interesses comerciais que os sustentam, assim, a liberdade de produção noticiosa é uma fantasia e o jornalismo não passa de uma arena ideológica.

A primeira luta diz respeito aos princípios da imparcialidade, objetividade e veracidade, muitos caros à atividade jornalística, fadada a conviver com a subjetividade do profissional, da empresa jornalística e do momento histórico a qual pertence. Para tentar estabelecer uma teoria que dê conta desses desvios, Lage (2012) classifica filtros técnicos e ideológicos utilizados na atividade que garantem a sua sobrevivência e relacionamento com a verdade até os tempos atuais.

Ao demonstrar que não é possível fazer a distinção sobre os critérios de verdade, pois esta não existe fora de um contexto histórico de interesses e motivações, enumera técnicas de fazer jornal que responderam às necessidades criadas pelas mutações da sociedade e da atitude do público com o jornalismo industrial. “A reiteração ideológica teria que ser feita por outros meios, e estes foram supridos por novas formas de produção da informação” (LAGE, 2012, p.31). Daí enumera o sensacionalismo, a simplificação, o inimigo único, os critérios de aferição da verdade, o abandono consciente das interpretações e a proposta de uma linguagem transparente.

Se no início a notícia era artesanal e incorporava crenças e perspectivas individuais, ao se tornar um produto industrial passou ser um artigo de consumo, sujeito a acabamento padronizado e embalados conforme técnicas de marketing. “Impessoal, tende, nos meios de comunicação social de agora, a produzir-se de modo a eliminar aparentemente crenças e perspectivas. No entanto, a melhor técnica apenas oculta preconceitos e pontos de vista do grupo social dominante” (LAGE, 2012, p.45). Ou seja, o autor admite que a notícia aponta para um imediato concreto, um discurso elaborado de forma coletiva e industrial massificada de um bem simbólico.

Contudo, alerta que, ao se definir notícia como o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante, reduz-se a discussão ao que venha ser importante, um conceito abstrato e contextualizado historicamente. O modelo universal de construção do texto noticioso tem que se adaptar aos diferentes idiomas e às grades de referenciais de cada cultura ou mercado. Assim, pode-se afirmar a existência de várias formas de notícias, e porque não dizer de vários jornalismos. “A realidade é múltipla, simultânea. A língua, linear e sequencial” (LAGE, 2012, p. 85). Desta forma, essa seleção é, para Lage, um momento de técnica com constatação empírica, com critérios de avaliação formal, mas que também considera pressupostos ideológicos e fragmentos de conhecimento científico.

Na tentativa de pensar a notícia tecnicamente, Lage a classifica como axiomática, porque mostra, impõe, dispensando argumentos que se furtam à análise crítica; contextualizada em lugar no espaço, no tempo e no público; e munida de prestígio, que se respalda na confiabilidade do enunciador ou do veículo. Uma característica destacada é a estrutura em um sistema linguístico em que emissor e receptor se relacionam em um nível de poder. Lembrando que a produção da notícia privilegia a função referencial, eliminando-se todas as funções emotiva e conativa (JACKOBSON, 1974), destaca que a notícia tenta uma aparência de neutralidade, “cujo repertório tem apenas ideias estatísticas”, e tenta se inocentar como se a produção linguageira da notícia fosse desinteressada.

Contudo, a arena ideológica volta, neste ponto, a se manifestar a partir da análise dos recursos estilísticos do texto jornalístico. O autor traz à análise o processo criativo dos redatores ao se empenharem na melhor redação para suas notícias que se adaptam a ambientes solenes ou informais. “O “resmungo” é uma investigação da harmonia, do ritmo, dos acentos” (LAGE, 2012, p.60). Essa construção estilística passa pela nomeação neutra em torno dos fatos jornalísticos, a fim de amplificar o sentido ao maior número de pessoas. Ao operaram preferencialmente com palavras comuns, alimentam o sistema de trocas ideológicas e trazem, de maneira inevitável, implicações e conotações ao sentido. Transmitem, assim, juízos e estereótipos invocando, muitas vezes, a ambiguidade do mito como unidade do discurso e provocando uma duplicidade de entendimentos (BARTHES, 1975). A partir desta reflexão, é possível também entender as semelhanças das notícias em veículos concorrentes e jornalistas falando de si mesmos de forma tão similar.

Tais modelos estão prontos; sua aceitação é garantida. Por isso, são bastantes alguns pontos em comum para que se funde um reconhecimento. É por esse meio que se instaura a generalidade do particular e as notícias tornam-se exemplo de algo sobre o que há consenso ideológico” (LAGE, 2012, p.139)

Ao entender o texto como unidade linguística dotada de significação plena, divide entre ordem narrativa e expositiva. Sendo a primeira ordem articulada pelos verbos de ação e movimento, com interpretações profundas, vinculadas a estereótipos, antíteses e improbabilidades. A segunda, de construção lógica com assertivas determinantes ou comprovações, traz redundâncias documentais em textos de “alta comunicabilidade”, ou seja, que passíveis de serem compreendidos pelo máximo de receptores com repertórios diferentes.

Para explicar os seus critérios de avaliação técnica, em 1979 quando escreveu a primeira versão do livro, nominados posteriormente de critérios de noticiabilidade, o autor lança mão de atributos com base nos “impulsos psicológicos inatos”, que podem ser de agressividade, sexualidade, possessivismo e protetivismo, assim como métodos de sublimação, redução e desvio.

“Na indústria cultural, a agressividade encontra sua projeção mais comum na violência; a sexualidade, no erotismo ou pornografia [....] ; o possessivismo, no consumo e em representações de progresso [....], avaliado pelo acúmulo de bens ou índices quantificáveis. Ascensão em escala social, aquisição de padrões; o protetivismo, em certo sentimentalismo aplicado às crianças em geral, aos animais, aos povos primitivos e a sua natureza ou cultura selvagens” (LAGE, 2012, p. 87)

A partir destes atributos, classifica critérios técnicos em proximidade (cultural e geográfica), atualidade (‘transatualidade’ – referente ao não conhecido), identificação social (verticalização), intensidade (números e retórica); ineditismo (raridade, improbabilidade) e identificação humana (olimpianos de Edgard Morin ou celebridades).

Com ênfase no contexto, Lage avança numa investigação sobre a verdade nas notícias e novamente afirma que esta é uma abstração, pois existe somente como um parâmetro de qualidade. “Subjetivamente, existirá ainda como memória de um instante fugaz de uma descoberta ou revelação. Nessa memória e neste instante, residem a experiência da verdade” (LAGE, 2012, p.125). A palavra é polissêmica, autônoma e existe nos inconscientes em quadros mentais de grande intensidade, mas que são enganosos porque seus significados são variáveis de acordo com a instância de uso. Para ele, a verdade histórica é a que prevalece, pois devemos partir da materialidade do fato para a eventual condição de verdade.

Ao comparar o conhecimento científico, destaca que a ciência conquista poder a partir do momento em que sua acumulação de saberes tem uma práxis; permitindo, quando o objeto é novo no campo, inclusive, que o cientista crie uma realidade ilusória com base em critérios particulares para se fazer compreender. Esta realidade construída também pode ser vista na notícia, sem, contudo, ser encarada como fuga do valor da verdade. “Não há ciências reacionárias, mas usos historicamente reacionários das ciências” (LAGE, 2012, p.132).

Por fim, Lage fala sobre as tensões que permeiam a autonomia semântica da palavra verdade, salientando o “universo fundamentalmente humano” do código linguístico e o seu grau de competência para organizar o conhecimento. Neste momento, se torna pertinente trazer à discussão o pensamento de McLuhan sobre o homem tipográfico. “Dir-se-ia que a grande virtude da escrita é o poder de deter o veloz processo do pensamento para a contemplação e análises constantes. A escrita é a tradução audível para o visual. Em larga medida, constitui a especialização do pensamento” (MCLUHAN, 2000, p. 155)[2]. Lage segue a mesma linha, ao depositar no código linguístico suposições ideológicas da verdade, uma verdade como um acordo implícito na linguagem, mas que traz um legado da cultura e seus controles. Porém, afirma que é necessário delimitar a competência deste código linguístico ao utilizá-lo a partir da materialidade das coisas e fatos do mundo.

“Notícias são relatos de aparências codificadas pelo código semiológico (ou linguístico), pelas técnicas de nomeação, ordenação e seleção, por um estilo” (LAGE, 2012, p.138). Assim, se o jornalista seguir estas condições de conformidade será qualificado como correto e honesto, sua competência é medida pelo domínio dessas técnicas, contudo Lage alerta que essas técnicas dissimulam a relações de poder, pois todas as escolhas em torno delas estão sendo feitas dentro de um código cultural. As técnicas apenas tentam minimizar o desvio em relação aos valores do que é uma notícia ideal. “Os jornais, em suma, não têm saída: são veículos de ideologias práticas, mesquinharias. Mas têm saída: há neles indícios da realidade e rudimentos de filosofia prática, crítica militante, grandeza submetida, porém insubmissa” (LAGE, 2000, p.143)



[1]. Adriana Santiago, doutoranda e mestre pelo Programa de Comunicação e Culturas Contemporâneas (Poscom), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor).
[2] MCLUHAN, Marshall .Visão, som e fúria. In LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p. 153-164

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Estratégias discursivas sobre o papel social do jornalismo[1]


Adriana Santiago [2]

Resumo

 Este artigo analisa as estratégias discursivas utilizadas pelas empresas de comunicação em seus sites noticiosos sobre o papel social do jornalismo. Foram selecionadas 14 organizações para análise dos discursos com base na Teoria da Produção Social de Sentido, de Eliseo Verón (2004). A partir das condições de produção designadas pelos rastros encontrados na superfície dos textos destacados, a pesquisa busca apontar leituras possíveis das estratégias utilizadas pelos meios para provocar os efeitos de sentido do discurso jornalístico oferecido atualmente.

Palavras-chave: 1. Jornalismo 2. Papel social 3. Estratégia discursiva 4. Análise do discurso 5. Condições de produção.

1.      Introdução
Este artigo vem tentar contribuir com a problematização sobre o jornalismo no âmbito da imaterialidade do discurso, especificamente na construção da necessidade social da notícia. Vai propor possíveis leituras do discurso jornalístico a partir da semiologia de Eliseo Verón, entendendo que o jornalismo ao ser estudado em sua imaterialidade, não seria menos real do que o empirismo que tem sido aplicado regularmente sobre suas práticas e discursos.
Verón (2004) defende que a consciência sobre o estatuto de sociedade é formada pela manifestação da ideologia no nível da prática, transferida para a ação social e a linguística. Esta transferência é legível nos enunciados. Porém, no nível ideológico mais profundo, esta leitura precisa ser completada pela concepção instrumental da linguagem, a divisão da superfície linguística por meio de um enunciado mínimo e a semântica ‘de dicionário’.  Desta forma, assevera que a expressão no plural ‘análise dos discursos’ designa tudo o que é produzido, pois o que circula e determina efeitos dentro de uma sociedade é sempre discurso.
Na Teoria da Produção Social de Sentido de Verón, todo o sistema produtivo de sentido está entre dois polos: o da produção e o do reconhecimento. A circulação seria o terceiro elemento, constituído pela diferença (ou defasagem) entre os dois polos, ou seja, a diferença entre a produção e os efeitos do discurso. Ao analista interessa a gramática, que é sempre o modelo de um processo de produção discursiva, sendo que um texto pode possuir tantas gramáticas quanto houver formas de abordá-lo. Entende-se que a gramática de produção é composta pelas condições de produção do discurso; a gramática de reconhecimento, pelas leituras que tiveram como objeto do discurso (efeitos); e, o processo de circulação, pela defasagem das duas gramáticas.
A operação metodológica que consiste em constituir um corpus de discurso permite automaticamente distinguir o próprio corpus de todos os outros elementos que devem ser considerados na análise, mas que não estão “dentro” do corpus. Tais elementos, que podemos chamar de extradiscursivos, constituem as condições tanto da produção quanto do reconhecimento. No meio dessas condições, sempre há outros discursos, mas estes últimos, não fazendo parte do corpus, funcionam, na verdade, como condições de produção ou de reconhecimento. Dentro dessas condições, também há, evidentemente, tudo aquilo que o analista considerará, por hipótese, como tendo um papel determinante para dar conta das propriedades dos discursos analisados: esses elementos variam de acordo com o tipo de pesquisa e com a natureza da produção significante enfocada (VERON, 2004, p.51-52).

Nesta linha, a pesquisa se interessa pela gramática de produção e partirá do conjunto de significantes expressos nos sites noticiosos de organizações que compõem o campo jornalístico. Em seguida, buscará o sentido investido nos discursos atestados a partir da noção dada às funções jornalísticas e ao seu papel social. O movimento de análise será reconstituir o processo de produção a partir do discurso na superfície das páginas de apresentação dos sites noticiosos, ou seja, passar do texto inerte à dinâmica da sua produção. A abordagem comparativa é, por sua vez, o princípio de base da análise dos discursos.
A pesquisa em questão foi realizada de forma sincrônica entre apresentação de 14 sites noticiosos para estabelecer a comparabilidade dos textos do corpus selecionado. A seleção dos sites foi a partir da identificação de forças no campo jornalístico, optando-se por organizações representativas com variações de classe e naturezas a fim de amplificar o alcance de leitura na busca das invariantes referenciais para análise.
Para entender as invariantes de referência é importante destacar a presença do elemento ideológico na situação de comunicação. Para Verón, o ‘ideológico’ é o nome do sistema de relações entre um discurso, suas condições sociais de produção e a análise se dá no nível das gramáticas de produção. “A análise ideológica é o estudo dos traços que as condições de produção de um discurso deixaram na superfície discursiva” (VERÓN, 2004, p.56). Porque, como o sentido em geral é produzido como um desvio, como diferença interdiscursiva, o autor alerta para esta dimensão que está por toda parte. Ressalta, porém, que nem tudo é ideológico, e este componente ideológico pode ser um problema para a pesquisa se não for bem administrado.
22. Campo como contexto
O campo jornalístico, a partir da noção de Bourdieu (1997), é um espaço social estruturado, um campo de forças onde há dominantes e dominados, com relações constantes, permanentes e de desigualdade. Estas forças lutam para transformar ou conservar suas posições neste espaço discursivo. “Cada um, no interior desse universo, empenha em sua concorrência com os outros a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e, em consequência, suas estratégias” (BOURDIEU, 1997, p 57).
Quando trata do campo científico, Bourdieu (1983) o define como um sistema de relações objetivas entre posições adquiridas em lutas anteriores, um espaço de disputa em concorrência pela autoridade científica, ou seja, a capacidade técnica e o poder social. Afirma que há disputa pelo monopólio da competência científica, compreendida enquanto capacidade de falar e de agir legitimamente (isto é, de maneira autorizada e com autoridade), que é socialmente outorgada a um agente determinado. Nos outros campos sociais, conclui, segue a mesma lógica.
No campo jornalístico está em disputa a credibilidade e a respeitabilidade entre os pares, as fontes e o público, o que resulta em boas cifras aos veículos. Constituiu-se um sistema de regras e estilo conferindo legitimidade junto à sociedade, que é um dos pontos de interesse do analista quando define a gramática de produção, ou seja, as condições de produção do discurso (VERÓN, 2004). Ao falar no mundo dos jornalistas, Bourdieu alerta que há conflitos, concorrências e hostilidades, porém os produtos são muito mais homogêneos do que normalmente se sugere.
As diferenças mais evidentes, ligadas sobretudo à coloração política dos jornais (que, de resto, é preciso dizê-lo, se descobrem cada vez mais...), ocultam semelhanças profundas, ligadas em especial às restrições impostas pelas fontes e por toda uma série de mecanismos, dos quais o mais importante é a lógica da concorrência.  [….] Isso se deve em parte ao fato de que a produção é coletiva. (BORDIEU, 1976, p.30-31)

Esta produção coletiva é feita a partir de procedimentos padrões e rotinas. Inclusive, o autor chama a atenção para o efeito de interleitura, onde os jornalistas se leem mutuamente e promovem um efeito de barreira ou de fechamento mental. “Eis um efeito de campo particularmente típico: fazem-se, por referência aos concorrentes, coisas que se acredita fazer para se ajustar melhor aos desejos dos clientes” (BOURDIEU, 1997, p.33). No campo jornalístico, acredita que os jornalistas têm ‘óculos especiais’ para ver a vida de forma particular, onde operam uma seleção e uma construção do que é selecionado. “O princípio de seleção é a busca do sensacional, do espetacular (BOURDIEU, 1997, p.25).
Este conjunto de pressupostos e de crenças partilhadas do campo jornalístico transcende às diferentes posições ou opinião entre os agentes do campo porque estão incutidos em categorias de pensamento ou em linguagens. Não se pode desprezar as particularidades de cada agente, as posições que ocupam e vetores que os tensionam. Entre estas variáveis podem entrar a posição do jornalista ou do veículo, ou ainda a conjuntura política e econômica. E, principalmente, do modelo de negócio, que o sujeita às pressões comerciais sob o risco de tensionamento, como perda de audiência ou queda nas vendas.
Bourdieu aponta que todos aqueles que querem se firmar como membro do campo, principalmente os que almejam ocupar posição dominante, se sentirão obrigados a manifestar independência aos poderes externos, políticos ou econômicos. E, só depois, indiferença em relação aos poderes e às honras. Nada mais próprio da cultura jornalística

3. Papel social como invariante referencial

Diante da especificidade do campo e o levantamento de suas gramáticas, é importante realizar uma análise crítica profunda deste setor a partir da compreensão do discurso sobre papel social da instituição jornalística e de seus agentes especializados. A sociologia do jornalismo reconhece a cultura jornalística e a comunidade interpretativa que partilha quadros de referências comuns (ZELIZER, 2011). Existem contratos fortes e inquebrantáveis entre público e jornalismo que precisam ser lidos nos discursos atuais. Verón chama atenção para não desprezar nenhuma das partes deste contrato. “Uma análise do dispositivo de enunciação é o que chamo de uma análise na produção: mas o contrato se cumpre, mais ou menos bem, no leitor: no reconhecimento” (VERÓN, 2004, p.234).
Ao analisar um discurso deve-se observar um conjunto de decisões metodológicas, que passam por identificar uma invariante referencial no corpus, ou seja, textos que devem falar da ‘mesma coisa’. Para Verón, estas escolhas são por critério indutivo e passam pelas condições de produção dos textos em análise. As diferenças textuais aparecem nas discrepâncias do processo de semantização que caracteriza cada meio - ou agente/posição do campo, no caso desta pesquisa. O que se observa a priori é que o papel social da profissão passa por ideias pré-concebidas e uma semantização aparente.
Michel Schudson (2008) afiança que, ao longo dos anos, os próprios jornalistas insistem na imprescindibilidade do seu ofício para o bem público. E a prática contínua de autolegitimação, com base na verdade e na defesa da liberdade de expressão e dos cidadãos em qualquer sociedade democrática, fez a importância do jornalismo para a democracia parecer natural. Bourdieu (1996) define este fenômeno pela autonomização do campo jornalístico, o que Gomes (2009) batiza de ‘discurso legitimador’.
Sob o aspecto da semiologia, Verón afirma que o discurso “absoluto” existe, mas salienta: somente enquanto efeito discursivo. “Observa-se que, na verdade, o efeito de sentido desse discurso da Verdade nada mais é do que o efeito de poder (de crença) de um discurso — o que Barthes chamava, há muito tempo, de ‘efeito de naturalização’ ao falar do mito” (VERÓN, 2004, p.57). Observa-se a prova da verdade na notícia, quando a imprensa testemunhal atende ao estatuto semiótico do fragmento de realidade, pois é único, singular, invencível. Chama-se a atenção para o imaginário da sociedade sobre o jornalista, ou seja, aquele que enfrenta o perigo e tem a habilidade de mediar ‘o que acontece’ e a sociedade. É um processo clivado nas transmissões em tempo real via internet. Cada vez mais se exige dos jornalistas esta capacidade de onipresença.
 É importante aqui observar que Verón faz uma distinção entre real e o discurso da imprensa. Se o discurso informativo constrói a atualidade, só o faz porque nele há um arcabouço moral e de valores sociais que foram construídos. Eles dão à mídia a permissão do público para produzir a mediação. Esta permissão existe porque o jornalismo se coloca ao serviço do interesse deste público.
Os rituais estratégicos para manter minimamente o arcabouço de credibilidade foram estudados por Gaye Tuchman, em 1972. O modelo clássico de produção, porém, está sendo desconstruído lentamente no discurso da informação. Novos discursos não-testemunhais e mudanças estruturais surgem juntamente com as sociedades pós-industriais. Para Verón, o discurso da informação está finalmente encontrando a verdadeira correspondência com os modos de funcionamento das sociedades industriais.
Guerra (2008) alinha três razões para justificar a força com a qual o paradigma da objetividade atuou na definição moderna do jornalismo. A primeira é econômica com um viés político, basicamente porque a afirmação da neutralidade e objetividade conferia credibilidade ao trabalho realizado e, consequentemente, aumentava as vendas de anúncios. A competência discursiva caracteriza-se pelo estilo racional e sóbrio, cujo formato de elaboração da notícia será a técnica do lide e da pirâmide invertida.
A segunda razão é que os indivíduos passavam a acolher os novos produtos. Havia uma demanda por um produto voltado aos fatos que garantisse o crescimento e fortalecimento desse negócio e, da mesma forma, a estruturação profissional da atividade jornalística.  Assim nasceu o padrão de conduta e refinamento das demais competências cognitiva e discursiva, que se voltou mais para a interpretação dos fatos. Surgia a terceira razão com as recém-adquiridas potencialidades do leitor. Aumentou o acesso à informação, a capacidade de conhecimento individual e a consequente descrença em explicações “divinas” ou “míticas” sobre a natureza do mundo, além disso, o cidadão alcançou a liberdade para decidir por si só sua orientação política (GUERRA,2008).
No que diz respeito à credibilidade, não só o jornalismo assume com o consumidor de notícias a obrigação de ser veraz, mas também o compromisso de usar de todos os recursos possíveis para evitar o engano e o erro (GOMES, 2009). O jornalismo contemporâneo é um sistema profissional que provê o mercado de informações de discursos (enunciados, argumentos, descrições e relatos) sobre a atualidade. A busca pela objetividade jornalística cria ainda rotinas profissionais.
A ‘objetividade’ pode ser vista como um ritual estratégico, protegendo os jornalistas dos riscos da sua profissão, como forma de defesa das críticas e possíveis suspeições, de agilizar o trabalho cotidiano e de cumprir os prazos de entrega do material (TUCHMAN, 1993). Assim, além da cultura profissional do jornalismo, existem as restrições ligadas às organizações que gerenciam o suporte de imprensa, determinam a definição da notícia, legitimam as fontes e selecionam os eventos a serem noticiados.
Desta forma, não se pode perder de vista que o jornalismo é um negócio que visa lucro como outro qualquer. É esse dilema entre iluminismo e economia liberal que pode embotar a visão sobre o objeto desta e de outras pesquisas. O jornalismo cumpre um papel social específico, não executado por outras instituições sociais. A instituição jornalística conquistou historicamente uma legitimidade social para produzir, para um público amplo, disperso e diferenciado, uma reconstrução discursiva do mundo com base em um sentido de fidelidade entre o relato jornalístico e as ocorrências cotidianas (FRANCISCATO, 2003).
Das funções principais apontadas por Schudson (2007) para a notícia servir de incentivo à democracia, há uma geralmente ignorada, é de que a notícia deveria servir para a promoção da democracia liberal e transparente. Aposta na instituição jornalística assumir um papel mais democrático e não populista para si, ou o seu agente, o jornalista. Para o autor, as seis funções do jornalismo nas sociedades democráticas seriam a de informação (os meios de comunicação podem fornecer informações justas e completas para os cidadãos fazerem boas escolhas políticas); de investigação (a mídia pode investigar fontes importantes do governo); de análise (os meios de comunicação podem fornecer estruturas coerentes de interpretação para ajudar os cidadãos a compreender um mundo complexo); de empatia social (jornalismo pode informar as pessoas sobre iguais para que possam vir a apreciar os pontos de vista e as vidas de outras pessoas, especialmente os menos favorecidos); de esfera pública (o jornalismo pode proporcionar um fórum para o diálogo entre os cidadãos e servir como portadores comuns das perspectivas de variados grupos da sociedade) e de mobilização (a mídia pode servir como defensores de determinados programas políticos e perspectivas e mobilizar as pessoas para agir em apoio a esses programas). E, para lembrar, a sétima: a promoção da democracia. 
É importante frisar que podemos assumir algumas diretrizes do pesquisador estadunidense, mas não como uma receita a ser aplicada ao Brasil, como adverte Afonso Albuquerque em sua tese do jornalismo como quarto poder.
A premissa adotada aqui é que os jornalismos que se praticam no Brasil e nos Estados Unidos são o fruto de ambientes culturais - e também, poder-se-ia acrescentar, políticos, econômicos e legais - completamente diferentes e, por este motivo, não há nenhuma razão a priori para supor que eles devessem ser semelhantes (ALBUQUERQUE, 2000, p.25).

As sete funções de Schudson (2007) podem, inclusive, servir de argumento para a construção do campo jornalístico com base no argumento iluminista, burguês, que era detentor de nenhum poder político contra a aristocracia e, assim, criou instituições como democracia moderna e seus correlatos, como mercado, esfera pública, opinião pública e jornalismo de opinião (GOMES, 2009). O jornalismo se alicerça neste discurso que o autolegitima, baseado no serviço ao interesse público, embora não possa ser um princípio absoluto da prática jornalística, porque este interesse é mutante, variável e nem sempre é feito para o bem da esfera civil.
A título de exemplo, podemos propor o seguinte raciocínio: o princípio “democracia”, que em outras sociedades é entendido como diretamente derivado do direito da participação do indivíduo nos negócios do Estado, tende a ser associado, no Brasil, ao valor “ordem pública” - democracia é algo que interessa a todos - e entendido como uma conquista importante, ainda que instável, da nossa sociedade. Aceitas tais premissas, não é absurdo sustentar a ideia de que, em situações críticas, é legítimo sacrificar os direitos individuais em nome da preservação da democracia, a qual, afinal, é do interesse de todos. E, se se acredita que a democracia é uma conquista instável (e, portanto, a crise é uma constante) faz sentido tolerar sacrifícios repetidos e sistemáticos do direito individual se eles se fazem em favor do bem comum (ALBUQUERQUE, 2000, p.26).

A esfera pública brasileira tem sua força quase restrita ao pleito eleitoral. Por mais que se tente alçar as redes sociais como a nova esfera pública, pouco poder ou nenhum aparece neste ambiente que não seja mediado pelo jornalismo. Albuquerque (2000) defende que é dado ao jornalista brasileiro uma responsabilidade de moderação que não permite à imprensa nacional definir o seu compromisso com a democracia em termos semelhantes à sua correspondente estadunidense. Por conta do extenso período da ditadura, o fantasma da crise da democracia provoca uma ambiguidade acerca do estatuto dos “fatos” e do “interesse público” o que compromete a noção de objetividade.
Dito isto, voltamos a falar da teoria democrática que dá aos meios de comunicação a função de “mercado de ideias” em que as diversas opiniões da sociedade podem ser ouvidas e discutidas de forma plural, inclusive as minorias populacionais (TRAQUINA, 2005, p.128). A defesa destas minorias é um papel social destacado desde os primórdios da organização da profissão, que se hibridiza de certa forma com o entendimento de defesa de direitos e fiscalização dos poderes político e econômico.
Esta defesa tem relação com a ideia imprimida do guardião da verdade (watchdog), de mostrar todas as informações e de forma correta (TRAQUINA, 2005), pois o jornalismo seria um quarto poder ou um poder moderador (ALBUQUERQUE, 2000). A verdade é buscada insistentemente pelos profissionais. “Os jornalistas estão na frente de batalha da liberdade, prontos a vir em sua defesa” (TRAQUINA, 2005a, p.28).


 
4. M
ovimento de análise


O papel social que emerge da cultura jornalística gira em torno da justificativa de defesa do interesse público. “Em suma, o que tornaria o jornalismo uma instituição legitimada do ponto de vista social seria o fato de ele estar voltado para servir, de maneira mais completa, ao interesse público” (GOMES, 2009, p.70). Assim, percebe-se a amplificação discursiva deste compromisso em atender à sociedade, que é encarada por alguns como uma espécie de missão no âmbito societário, como a promoção de democracia defendida por Schudson (2008).
O pacto da mediação cobra do jornalismo obrigações proporcionais à sua importância. Verdade, honestidade, correção, lealdade, respeito, equilíbrio, justeza, imparcialidade são todos valores e princípios que orientam uma ética do jornalismo mesmo lá onde o serviço do interesse público não fizer sentido e nem tiver cabimento (GOMES, 2009, p.87).

Este pacto seria um contrato traçado com várias funções pré-estabelecidas que influenciam diretamente as condições de produção da atividade. E não só no produto que oferece, mas também a imagem que faz de si mesmo para se legitimar. A partir dos estudos de Verón (2004), observa-se que a conceitualização das condições de produção dos textos orienta a definição de uma leitura ideológica possível dos mesmos.
Para o autor, uma “análise de texto” orientada para o estudo do ideológico no discurso deve ser enquadrada por um conjunto de hipóteses externas que permite a constituição do corpus e a identificação das operações pertinentes dentro do mesmo. Verón afirma que o ideológico no discurso não consiste em propriedades imanentes nos textos, e sim, em um sistema de relações entre o texto, de um lado, e sua produção, circulação e consumo, de outro.
Assim, o sistema de relações sempre passa pelo texto, aqui interpretado como tanto o resultado da produção noticiada, como as produções escritas sobre si mesmas. “Em outras palavras, o texto é justamente o lugar em que tal sistema se constitui enquanto produção de sentido” (VERON, 2004, p.101). Na tentativa de observar o sistema de relações que mantém o discurso legitimador na sua instância da produção, o artigo parte da análise das formações discursivas das organizações sobre o papel social do jornalismo.
A pesquisa mais adequada para o método da análise de discurso é sobre a materialidade do texto, observando-se na superficialidade da camada discursiva a camada ideológica, mais profunda. “Quanto mais naturalizada a ideologia, mais formações discursivas que dela derivam carregam sentidos que parecem literais” (BENETTI, 2008, p.108). As formações discursivas (FD) são, para a autora, uma espécie de região de sentidos, entendendo que jornalismo usa de mapas de significados consolidados na sociedade e contribui para estabelecer consensos, ou seja é uma construção de sentidos sobre a realidade que emerge nas frases. Porém, para viabilizar a análise, é preciso limitar o campo de interpretação destes sentidos em significados que consolidam aquele sentido nuclear. A representação das formações no relato são chamadas de sequências discursivas (SD).
O que fazemos é localizar as marcas discursivas no sentido rastreado, ressaltando as que o representam do modo mais significativo. Depois de identificar os principais sentidos e reuni-los em torno de formações discursivas mínimas, o pesquisador deve buscar, fora do âmbito do texto analisado, a constituição dos discursos “outros” que atravessam o discurso jornalístico (BENETTI, 2008, p.113)

Para a linguista Vanice Sargentini, o corpus ocupa lugar central na Análise de Discursos, uma vez que se trata de aplicar um método definido sobre um conjunto determinado de textos, formações ou sequências discursivas.
No interior dos estudos da Análise do Discurso, considera-se a dupla paternidade da noção de formação discursiva. Tal conceito, proposto inicialmente por M. Foucault e, posteriormente, sob a ótica do marxismo althusseriano, por M. Pêcheux, torna-se indissociável da noção de interdiscurso. Embora mergulhada em contexto teórico que se modifica, a noção de formação discursiva, e por extensão de interdiscurso, sempre manteve relação estreita com a organização do corpus para a Análise do Discurso (SARGENTINI, 2005, p.1).

Analisar-se-á, portanto, um campo semântico e de frases gramaticalmente transformadas em torno de palavras-pivô, quando um dado vocábulo é escolhido como pivô de uma classe de proposições. Contudo, não se pode deixar de observar as condições sócio-históricas de produção do discurso, e dos sentidos silenciados. 
As 14 organizações[3] foram escolhidas por critérios de audiência, antiguidade e natureza do negócio entre entidades representativas, profissionais e de estudos, de natureza comercial e não-comercial e foram selecionadas com o intuito de cumprir a regra da representatividade. Tentou-se manter um desvio sistemático, onde estão visíveis traços das condições diferenciais de produção onde cada organização tem diferenças marcantes de posição discursiva. Este exercício de seleção das representações a serem consideradas na primeira fase da pesquisa, dilatou a impressão inicial do campo jornalístico com muitos mais atores e posições do que o estimado.
Entende-se que, apesar da necessidade de ajustes severos na escolha do corpus não invalida a amostra inicial e facilita a comparação dos resultados. Os fragmentos foram organizados para ter um conteúdo mínimo equilibrado por organização a fim de dar equidade, e cada organização foi isolada, possibilitando novas análises. Esta ação teve por objetivo manter o grupo de textos homogêneo do ponto de vista das condições extratextuais, ou seja, aproximar-se do desvio zero. Optou-se por analisar as formações discursivas em torno de conceitos-chaves retiradas do marco teórico, que poderiam aparecer em palavras-pivô[4], no caso, foi construído um mapa semântico com palavras-chaves e termos correlatos[5].
Na tentativa de relacionar o texto inerte à sua gramática de produção, esta pesquisa vai comparar as economias discursivas das organizações do campo jornalístico selecionadas em uma análise sincrônica, a partir de suas posições diferenciadas no campo jornalístico; sem deixar de lado a perspectiva diacrônica, embora de forma transversal, ao considerar o discurso da literatura que fundamenta o campo e que dá conta de discursos que o autonomizaram, aqui relacionados no marco teórico.
A análise dos discursos situa-se nos desvios interdiscursivos. Em relação a conjuntos textuais, ela tem por objetivo reconhecer economias discursivas: a especificidade de uma economia discursiva não pode ser expressa senão como diferença de funcionamento em relação a outras economias. A análise do discurso é, portanto, sempre e necessariamente, intertextual (VERÓN, 2004, p.159).

Pelo método, as superfícies discursivas destes textos de apresentação são analisadas de uma forma operacional. Entende-se a superfície discursiva como uma rede de relações, que podem ser descritas como traços de operações imprimidas nestas formações discursivas. Estas passam pelas marcas linguísticas, no caso, tanto pelas invariantes que giram em torno do papel social do jornalismo quanto no mapeamento semântico. Este mapa semântico pode ser classificado na lógica dos “pacotes mais amplos” de análise, como a operação de relacionar as expressões ao contexto.
Analisado na produção, um discurso desenha um campo de efeitos possíveis e não um efeito, necessário e inevitável: é uma outra maneira de enunciar o princípio segundo o qual o efeito não pode ser diretamente inferido da análise na produção, é uma outra maneira de lembrar que gramáticas da produção e gramáticas do reconhecimento jamais são idênticas (VERÓN, 2004, p.161).

O campo de efeitos só pode ser considerado a partir da condição de produção, quando deixa rastros no discurso, mas não faz parte do discurso em si. É considerado, por hipótese, tudo o que tenha papel determinante, ou seja, uma variável de análise. “Em outras palavras, é preciso mostrar que, se mudam os valores das variáveis postuladas como condições de produção, o discurso também muda” (VERÓN, 2004, p.52). Nesta pesquisa, entende-se, por hipótese, que a posição discursiva da organização modifica o discurso sobre o papel do jornalismo e, consequentemente, suas estratégias. Verón explica que existe uma organização significante do espaço do discurso, e que o discurso é a alocação do sentido no espaço-tempo. Portanto, do ponto de vista da Teoria da Produção Social de Sentido, um texto não pode ser analisado ‘em si mesmo’, mas apenas em relação às invariantes do sistema produtivo de sentido.
O que se observa da apreciação do corpus é que o método da análise de discursos possibilita uma amplitude de observação do objeto, que a análise de conteúdo por si só não permite. Não só palavras, mas o texto completo em si traz um significante importante, uma maior possibilidade. Os ‘Princípios editoriais das organizações Globo’, analisados para duas organizações, o portal G1 e TV Globo, tomam uma dimensão significativa na pesquisa, não só pelo conteúdo extenso, mas pela modalização dada ao discurso. Vê-se, de início, no escopo da pesquisa três fortes posições discursivas: das organizações com fins comerciais, que chamaremos doravante de mercado; dos profissionais jornalistas; e da academia. Outras duas posições que apresentam menos força, mas ainda consideradas neste corpus, são da imprensa sem fins lucrativos que se declara como alternativa e das organizações públicas.
As marcas identificadas nas organizações de natureza econômica, ou seja, que visam ao lucro, expressam um conjunto de significantes bem peculiar investido nos discursos atestados em torno do papel social. Nesta posição discursiva foram consideradas as organizações Associação Nacional dos Jornais (ANJ), jornal Folha de S. Paulo (FSP), Portal G1, Rádio Band News e Tv Globo. Todas estas organizações assumem formações discursivas semelhantes, que se alinham ao estatuto semiótico da verdade apontado por Verón, mais conhecido como o princípio da objetividade.
As organizações se apresentam como defensoras do interesse público, que promovem todos os esforços para não perder a credibilidade, que seria o referendo da sociedade para operarem neste ofício. E, para isso, têm que ser objetivos e escondem que são um negócio sujeitos às forças do mercado (GOMES, 2009). Por todo o material estudado perpassa o discurso da necessidade moral da imprensa, principalmente para consolidar a democracia no Brasil, fiscalizando os governos e garantindo a própria existência da atividade jornalística.
A ANJ, organização de classe que congrega proprietários de veículos de comunicação impressos, inicia a apresentação com a expressão “defesa da liberdade de expressão do pensamento”, onde quer uma imprensa “sem restrições” desde que sejam observados os “princípios de responsabilidade”. Destaca diversas vezes que a entidade defende os direitos humanos e os valores da democracia, e se coloca, igualmente aos seus jornais associados, como incentivadora da cultura, da memória e do desenvolvimento do país. O ponto alto é quando afirma que existe “a necessidade das sociedades de terem informações, opiniões, e jornalismo de qualidade”. Estes trechos vêm de uma associação que representa empresas comerciais, porém só trata do aspecto econômico quando defende o direito à livre iniciativa, comercialização e a defesa da liberdade de expressão comercial. Por fim, a supervalorização da informação e a sustentação, mesmo contraditória, da objetividade, mantém o discurso que legitima o campo. As sequências do Globo exemplificam: “é importante que o público possa diferenciar o que é publicado como comentário, como opinião, do que é publicado como notícia, como informação”, a “objetividade total certamente não é possível, há técnicas que permitem ao homem, na busca pelo conhecimento, minimizar a graus aceitáveis o subjetivismo”.
Os profissionais aparecem claramente neste corpus no discurso da maior representação oficial da categoria. Ao observar as estratégias do discurso da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) destaca-se, sem surpresas, que há uma clara aproximação com a formação discursiva do papel social jornalismo como fórum público, defensor da verdade e promotor de democracia. Observa-se esta constatação nas sequências: “A FENAJ na luta pela liberdade e pela ética no jornalismo”, “e garantissem para a sociedade acesso público à informação ética e plural”, “democracia como valor inalienável do cidadão”, “defender o Jornalismo como atividade essencial à democracia”, “para que o cidadão (ã) possa formar seu próprio juízo e agir individual e coletivamente no ambiente democrático”.
As formações discursivas mais funcionalistas sobre o jornalismo, contudo, são muito fortes e presentes. A entidade representante dos trabalhadores assume igualmente a homilia positivista da objetividade. Nesta posição são colocadas a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (Sbpjor), Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e os cursos de jornalismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Nas entidades representativas de pesquisa, SBPJor e Intercom, o discurso legitimador do jornalismo aparece menos do que nos segmentos anteriores. Observa-se que há um cuidado em não adotar conceitos polêmicos.
Na sequência discursiva identificada no texto da Sbpjor sobre a independência e a promoção de democracia, observa-se “garantam a liberdade de expressão e o direito à informação do povo brasileiro”; “democracia já conquistada” e “a democracia pluralista, as necessidades de expressão e informação de segmentos emergentes, organizações, movimentos e novos atores sociais”. Estas sequências demonstram o ideário democrático defendido por Schudson, contudo, sequencias funcionalistas podem ser encontradas até mesmo na Intercom, que é a maior e mais antiga das entidades de pesquisa, como nestas que falam das funções de investigar, selecionar: “jornais de referência mais sérios têm um editor responsável, que filtra, corrige e comprova os dados apresentados, acompanha a linguagem e faz mediações” e “a função jornalística, de intermediação, não pode nem deve desaparecer”. Todas, enfim, para atender ao interesse público: “essência do Jornalismo – a narração de acontecimentos ocorridos na sociedade e que sejam importantes e do interesse dela”. Nas universidades, quer seja pública ou particular, o padrão permanece.
O jornal Brasil de Fato tem uma tiragem nacional anunciada de 50 mil exemplares, tem circulação nacional e se declara não-comercial, o que o coloca numa posição discursiva diferente dos veículos assumidamente comerciais. Contudo, o negócio que não visa o lucro ainda propicia uma margem de suspeita, porque ainda é preciso ser vendido para sustentar a produção e uma tiragem desta dimensão. A explicitação da posição independente no mercado também evidência na análise uma estratégia discursiva para atingir a um público específico. Observar esta contradição é importante para não provocar um desvio maior na leitura do efeito discursivo.
    O Portal EBC é o website noticioso nacional ligado ao Governo Federal, sem fins comerciais. Apesar de ser financiado pelo governo afirma que tem “independência editorial”, “independência nos conteúdos” e “distinguem-se dos canais estatais ou governamentais”. Efetivamente, a necessidade de explicitar independência é uma estratégia discursiva para afastar a leitura negativa que se faz do conteúdo informativo, e o primado da objetividade e isenção.  A missão mostra que o portal existe para “criar e difundir conteúdos que contribuam para a formação crítica das pessoas”. Estabelece como papel social a informação para a promoção de cidadania, apesar de incorporar a expressão “formação crítica” como um componente diferenciador que já remete à noção de defesa de direitos, ligada à ideia de jornalista guardião da verdade.
Outra organização financiada em grande parte pelo Estado é a Rede TV Brasil, rede televisão pública nacional que agrega a TV Brasil, TV Brasil internacional e TVs Cultura nos estados. No seu texto de apresentação, também inicia com a estratégia discursiva da independência e isenção, assim como da promotora de democracia, quando afirma: “televisão pública nacional, independente e democrática”, se aliando às formações discursivas mais frequentes nos veículos comerciais. “Sua finalidade é complementar e ampliar a oferta de conteúdo, oferecendo uma programação de natureza informativa, cultural, artística, científica e formadora da cidadania”.
5.      Considerações finais
Observa-se que há nos discursos oficiais dos agentes do campo jornalístico uma linearidade no que diz respeito ao seu papel social e às suas funções.  Em uma pesquisa inicial por análise de conteúdo sobre as mesmas apresentações de sites noticiosos[6] observou-se igualmente um discurso padronizado, institucionalizado e, muitas vezes, automático sobre o papel do jornalismo na sociedade a partir do mapeamento semântico em torno das funções clássicas atribuídas ao jornalismo. Chegou-se a resultados operacionais, onde se tentou mapear as funções que os meios jornalísticos atualmente se comprometem.
Confirmou-se resultados da análise de conteúdo inicial sobre o mesmo corpus, ao apontar que as empresas jornalísticas alimentam o ethos institucional e seus discursos oficiais em consonância com o que é conceituado pela bibliografia reconhecida no campo, ou seja, aquela alinhada à lógica societária dos Estados Unidos. O ideal profissional liberal descrito teoricamente foi assimilado até mesmo em posições discursivas anunciadamente opostas. Percebe-se ainda que ao compararmos à literatura sobre o jornalismo, alguns conceitos estão arraigados, mas somente Teoria da Produção Social do Sentido propicia o mergulho nas camadas mais profundas e tenta, nestes textos, perceber mais além.
O mapa semântico construído a partir das palavras-chaves oferece um indicativo importante que é possível analisar um corpus extenso quantitativamente, porém induz a muitos deslizes ideológicos. Um exemplo é na classificação das posições discursivas dos agentes do campo, como no caso do jornal Brasil de Fato, que aponta para uma posição mais independente, mas mantém discursos similares à mídia comercial. De acordo com Verón, quando o analista tenta montar a gramática de reconhecimento de um discurso, a sua leitura tem como objetivo reconstituir a leitura do “consumidor”. Neste sentido, a análise feita demonstra que a estratégia discursiva gira em torno do discurso “absoluto” da verdade, onde o jornalismo é colocado em situação de imaterialidade, pois sua materialidade é uma forma de negócio, muitas vezes se apresenta indigno de credibilidade e respeito. O que se percebe é a tentativa de dissociação da atividade do aspecto material.
Entidades de pesquisa, como SBPJor e Intercom, evitam o discurso legitimador do jornalismo, pois os argumentos científicos não conseguem definir esse processo adequadamente para explicitar em seus princípios. Este é o desafio da pesquisa maior, que vai além deste artigo, quando serão observadas marcas linguísticas não linguísticas na fala dos profissionais como modalização, entonação de voz, ironia, silêncios e alterações de humor. Pois são eles os locutores deste discurso e a dinâmica dos textos orais, sem sistematização das apresentações, que dará a real situação de comunicação sobre este discurso e suas estratégias.

4 Referências bibliográficas

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_______________. Journalism in the Service of Communication. Journal of Communication .Volume 61, Issue 1, pages 1–21, February 2011





[1]Trabalho apresentado no GP Teorias do Jornalismo, XV Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
[2] Professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas pela Faculdade de Comunicação (Facom), da Universidade Federal da Bahia.
[3] As organizações foram ANJ, Fenaj, Sbpjor, Intercom, F. São Paulo, Brasil de Fato, Portal G1, Portal EBC, Rádio Band News, Rádio Nacional, Tv Globo , Tv Brasil, Curso de Jornalismo Unisinos e Curso de Jornalismo da Uerj.                            
[4] As palavras-chaves são: informação, investigação, análise, empatia social, fórum público, mobilização, democracia, guardião da verdade/’watchdog’, mercado de ideias, interesse público e independência.
[5] Ver artigo “SANTIAGO, A. Para que serve o jornalismo? Um caminho para estudar as funções da instituição jornalística no Brasil” http://sbpjor.kamotini.kinghost.net/sbpjor/admjor/arquivos/12encontro/comunicacoes_individuais/3774.pdf
[6] Ver SANTIAGO (2014). Para que serve o jornalismo? Um caminho para estudar as funções da Instituição jornalística no Brasil. In. Anais XII SBPJor, novembro de 2014